tag:blogger.com,1999:blog-47830429820588952712024-03-12T21:10:18.115-07:00ANTOLOGIAS IN ANEXOCultura e Entretenimento. Uma janela para novas idéias.Unknownnoreply@blogger.comBlogger34125tag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-19473092854974052822008-07-29T12:35:00.000-07:002010-12-13T11:41:39.312-08:00<div align="justify"> </div><div align="justify"> </div><div align="justify"> </div><div align="justify"> </div><div align="justify"> </div><div align="justify"> </div><div align="justify"> </div><div align="justify"> </div><div align="justify">Portal criado pelo escritor junqueiropolense, Odair J. Alves. O Antologias In Anexo é um portal para livre discussão de idéias, divulgação de textos e trabalhos artisticos em geral. É proibido a publicacão de trabalhos de conteúdo pornográfico, bem como qualquer tipo de material ofencivo a pessoas ou instituições. Serão aceitos os mais diversos trabalhos, sejam eles de cunho, artistico, filosófico, político, e nas mais variadas formas de expressão, tais como obras em prosa e verso, abranjendo todas as vertentes existentes, materias escritos, aúdios, vídeos, fotografias e outros. Os materias devem ser enviados por e-mail para o endereço eletrônico do Antologias In Anexo, em CONTATO, após recebido será averiguada a legtimidade dos mesmos, e se estão de acordo com as normas do Antologias In Anexo. Os trabalhos serão publicados apenas como forma de divulgação. O Antologias In Anexo, tem como objetivo construir um núcleo comum, um ponto de encontro entre artistas, ativistas e pesandores em geral de todo o Oeste Paulista. Portal sem fins lucrativos. IMPORTANTE: Quando, por ocasião do envio de seu primeiro trabalho, pedimos que envie também uma pequena biografia, para que possamos anexar em AUTORES. Obrigado. Seja bem vindo.</div>ODAIR J ALVEShttp://www.blogger.com/profile/06398392466893894226noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-3220106532003282082008-07-29T12:27:00.000-07:002008-07-29T12:28:07.675-07:00<div class="widget LinkList" id="LinkList8"> <h2>MARIA ROSA DOS SANTOS</h2> <div class="widget-content"> <ul><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-06-30T12%3A45%3A00-07%3A00&max-results=1">Cartas ao Presidente</a></li></ul> <span class="widget-item-control"> <span class="item-control blog-admin"> <a class="quickedit" href="rearrange?blogID=4783042982058895271&widgetType=LinkList&widgetId=LinkList8&action=editWidget" onclick="'return" target="configLinkList8" title="Editar"> <img alt="" src="http://img1.blogblog.com/img/icon18_wrench_allbkg.png" /> </a> </span> </span> </div> </div> <div class="widget LinkList" id="LinkList7"> <h2>PEDRO ALEXANDER</h2> <div class="widget-content"> <ul><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-07T09%3A26%3A00-07%3A00&max-results=1">Sem suportes</a></li></ul> <span class="widget-item-control"> <span class="item-control blog-admin"> <a class="quickedit" href="rearrange?blogID=4783042982058895271&widgetType=LinkList&widgetId=LinkList7&action=editWidget" onclick="'return" target="configLinkList7" title="Editar"> <img alt="" src="http://img1.blogblog.com/img/icon18_wrench_allbkg.png" /> </a> </span> </span> </div> </div> <div class="widget LinkList" id="LinkList6"> <h2>LUCIANO AP. GASPAR</h2> <div class="widget-content"> <ul><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-07T11%3A10%3A00-07%3A00&max-results=1">Contador de histórias</a></li></ul> <span class="widget-item-control"> <span class="item-control blog-admin"> <a class="quickedit" href="rearrange?blogID=4783042982058895271&widgetType=LinkList&widgetId=LinkList6&action=editWidget" onclick="'return" target="configLinkList6" title="Editar"> <img alt="" src="http://img1.blogblog.com/img/icon18_wrench_allbkg.png" /> </a> </span> </span> </div> </div> <div class="widget LinkList" id="LinkList5"> <h2>ODAIR J ALVES</h2> <div class="widget-content"> <ul><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-07T06%3A12%3A00-07%3A00&max-results=1">Coito</a></li><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-08T09%3A39%3A00-07%3A00&max-results=1">Crônica em alemão</a></li><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-13T10%3A41%3A00-07%3A00&max-results=1">De tudo o que me infesto</a></li><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-13T10%3A43%3A00-07%3A00&max-results=1">Desatar</a></li><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-08T11%3A03%3A00-07%3A00&max-results=1">Dorme Rita</a></li><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-07T12%3A36%3A00-07%3A00&max-results=1">Jogando Black Jack com Deus</a></li><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-08T09%3A35%3A00-07%3A00&max-results=1">Labirintos de Rita</a></li><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-08T09%3A37%3A00-07%3A00&max-results=1">Lembranças do homem sem nome</a></li><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-08T11%3A00%3A00-07%3A00&max-results=1">O caso da barata</a></li><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-30T10%3A23%3A00-07%3A00&max-results=1">Poema em preto e branco</a></li><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-13T10%3A39%3A00-07%3A00&max-results=1">Sensações</a></li><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-08T11%3A01%3A00-07%3A00&max-results=1">Situação de clichê</a></li></ul> <span class="widget-item-control"> <span class="item-control blog-admin"> <a class="quickedit" href="rearrange?blogID=4783042982058895271&widgetType=LinkList&widgetId=LinkList5&action=editWidget" onclick="'return" target="configLinkList5" title="Editar"> <img alt="" src="http://img1.blogblog.com/img/icon18_wrench_allbkg.png" /> </a> </span> </span> </div> </div> <div class="widget LinkList" id="LinkList4"> <h2>LOURIVAL LEMOS</h2> <div class="widget-content"> <ul><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-07T06%3A12%3A00-07%3A00&max-results=1">Universo</a></li></ul> <span class="widget-item-control"> <span class="item-control blog-admin"> <a class="quickedit" href="rearrange?blogID=4783042982058895271&widgetType=LinkList&widgetId=LinkList4&action=editWidget" onclick="'return" target="configLinkList4" title="Editar"> <img alt="" src="http://img1.blogblog.com/img/icon18_wrench_allbkg.png" /> </a> </span> </span> </div> </div> <div class="widget LinkList" id="LinkList3"> <h2>JOSÉ IDEVALDO</h2> <div class="widget-content"> <ul><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-08T09%3A30%3A00-07%3A00&max-results=1">Solidão</a></li></ul> <span class="widget-item-control"> <span class="item-control blog-admin"> <a class="quickedit" href="rearrange?blogID=4783042982058895271&widgetType=LinkList&widgetId=LinkList3&action=editWidget" onclick="'return" target="configLinkList3" title="Editar"> <img alt="" src="http://img1.blogblog.com/img/icon18_wrench_allbkg.png" /> </a> </span> </span> </div> </div> <div class="widget LinkList" id="LinkList2"> <h2>FLÁVIA L. DA GAMA</h2> <div class="widget-content"> <ul><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-07T11%3A07%3A00-07%3A00&max-results=1">End</a></li></ul> <span class="widget-item-control"> <span class="item-control blog-admin"> <a class="quickedit" href="rearrange?blogID=4783042982058895271&widgetType=LinkList&widgetId=LinkList2&action=editWidget" onclick="'return" target="configLinkList2" title="Editar"> <img alt="" src="http://img1.blogblog.com/img/icon18_wrench_allbkg.png" /> </a> </span> </span> </div> </div> <h2>ELISANGELA AMBRÓSIO</h2> <ul> <li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-05-07T09%3A29%3A00-07%3A00&max-results=1">Rodeiam minha mente</a></li> </ul>ODAIR J ALVEShttp://www.blogger.com/profile/06398392466893894226noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-76080041272511523042008-07-29T12:26:00.000-07:002008-07-29T12:27:12.897-07:00<div class="widget-content"> <ul><li>Portal criado pelo escritor junqueiropolense, Odair J. Alves. O Antologias In Anexo é um portal para livre discussão de idéias, divulgação de textos e trabalhos artisticos em geral. É proibido a publicacão de trabalhos de conteúdo pornográfico, bem como qualquer tipo de material ofencivo a pessoas ou instituições. Serão aceitos os mais diversos trabalhos, sejam eles de cunho, artistico, filosófico, político, e nas mais variadas formas de expressão, tais como obras em prosa e verso, abranjendo todas as vertentes existentes, materias escritos, aúdios, vídeos, fotografias e outros. Os materias devem ser enviados por e-mail para o endereço eletrônico do Antologias In Anexo, em CONTATO, após recebido será averiguada a legtimidade dos mesmos, e se estão de acordo com as normas do Antologias In Anexo. Os trabalhos serão publicados apenas como forma de divulgação. O Antologias In Anexo, tem como objetivo construir um núcleo comum, um ponto de encontro entre artistas, ativistas e pesandores em geral de todo o Oeste Paulista. Portal sem fins lucrativos. IMPORTANTE: Quando, por ocasião do envio de seu primeiro trabalho, pedimos que envie também uma pequena biografia, para que possamos anexar em AUTORES. Obrigado. Seja bem vindo.</li></ul> <span class="widget-item-control"> <span class="item-control blog-admin"> <a class="quickedit" href="rearrange?blogID=4783042982058895271&widgetType=TextList&widgetId=TextList1&action=editWidget" onclick="'return" target="configTextList1" title="Editar"> <img alt="" src="http://img1.blogblog.com/img/icon18_wrench_allbkg.png" /> </a> </span> </span> </div> <!-- spacer for skins that want sidebar and main to be the same height--> <div class="clear"> </div>ODAIR J ALVEShttp://www.blogger.com/profile/06398392466893894226noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-4507541440432896412008-06-30T12:45:00.001-07:002008-07-24T17:46:03.054-07:00Cartas ao Presidente.<h3 class="entry-header"></h3><div class="entry-content"><div class="entry-body"><p>23/06/2008<br /><br />A Presidente e ao Presidente da frança ( de maria rosa )<br />Presidente como vai a senhora ?<br />Como vai a França ?<br />Como vocês chama ?<br />Qual é a idade de vocês ?<br />Vocês sâo eternos ?<br />Presidente, é verdade que este país que estou é Portugal ?<br />É verdade que sou presidente do Portugal ?<br />Presidente v. exelencia leu o livro que fala dos meninos preso numa caverna e que mandavam noticias deles na cidade escrevendo e mandando na corrente do rio ?<br /></p><div class="widget-content"><ul><li><a href="http://antologiasinanexo.blogspot.com/search?updated-max=2008-06-30T12%3A45%3A00-07%3A00&max-results=1">VEJA O MANUSCRITO ORIGINAL DESSE TEXTO</a></li></ul><span class="widget-item-control"><span class="item-control blog-admin"><a class="quickedit" title="Editar" onclick="'return" href="http://www.blogger.com/rearrange?blogID=4783042982058895271&widgetType=LinkList&widgetId=LinkList8&action=editWidget" target="configLinkList8"><br /></a></span></span></div><p><br />A Presidente e ao Presidente do Afeganistão.<br />Presidente eu caibo ser pedagoga mas não sei o que é pedagoga, mas penso que é saber ter conhecimento daquilo que não nasci tendo eu me sinto frágil pedagogicamente, sofri muito com a virada radical mesmo passando a noite rezando deu que aqui é Brasil, mesmo com certeza dessa luta, sendo que era Portugal.<br />Você precisa de pedagogia?<br />Porque?<br />Presidente do Portugal! </p><p><a href="http://dihitt.com.br?ref=23506" dihitt_check="b848142a31b686ae5e9f5ae83f63dbcc"><img src="http://dihitt.com.br/banners/dihitt_16x16_01.jpg" /></a></p></div></div>ODAIR J ALVEShttp://www.blogger.com/profile/06398392466893894226noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-78955911111478692032008-06-30T10:25:00.000-07:002008-06-30T10:51:07.018-07:00<a href="http://bp2.blogger.com/_n9wgCuN-W3E/SGkcl2PYr4I/AAAAAAAAAQI/FoDmJHRHvZ8/s1600-h/Imagem+002.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5217733079826214786" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://bp2.blogger.com/_n9wgCuN-W3E/SGkcl2PYr4I/AAAAAAAAAQI/FoDmJHRHvZ8/s400/Imagem+002.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="http://bp1.blogger.com/_n9wgCuN-W3E/SGkX3ozI9GI/AAAAAAAAAQA/lmK_AQJP5qo/s1600-h/Cópia+de+junqueiropolis+002.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5217727887897588834" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://bp1.blogger.com/_n9wgCuN-W3E/SGkX3ozI9GI/AAAAAAAAAQA/lmK_AQJP5qo/s400/C%C3%B3pia+de+junqueiropolis+002.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div></div></div>Lucianohttp://www.blogger.com/profile/00727987071076725412noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-33852336465502817552008-06-23T18:28:00.000-07:002008-06-23T19:33:59.675-07:00escrituras de MARIA ROSA23/06/2008<br /><br />A Presidente e ao Presidente da frança ( de maria rosa )<br />Presidente como vai a senhora ?<br />Como vai a França ?<br />Como vocês chama ?<br />Qual é a idade de vocês ?<br />Vocês sâo eternos ?<br />Presidente, é verdade que este país que estou é Portugal ?<br />É verdade que sou presidente do Portugal ?<br />Presidente v. exelencia leu o livro que fala dos meninos preso numa caverna e que mandavam noticias deles na cidade escrevendo e mandando na corrente do rio ?<br /><br /><br />23/06/2008<br /><br />A Presidente e ao Presidente do Afeganistão.<br />Presidente eu caibo ser pedagoga mas não sei o que é pedagoga, mas penso que é saber ter conhecimento daquilo que não nasci tendo eu me sinto frágil pedagogicamente, sofri muito com a virada radical mesmo passando a noite rezando deu que aqui é Brasil, mesmo com certeza dessa luta, sendo que era Portugal.<br />Você precisa de pedagogia?<br />Porque?<br /> Presidente do Portugal.alaor lacerdahttp://www.blogger.com/profile/12337126696556541295noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-59011151526639150362008-05-30T10:23:00.000-07:002008-05-30T10:24:53.964-07:00Existência<h3 class="post-title entry-title"> </h3> <div class="post-body entry-content"> <p>Existem espécimes, espécies e especialistas,<br />existem esses espertinhos engolindo entorpecentes,<br />esses encantadores e essências eletricistas<br />e existem epidêmias estranhas e excitantes.<br /><br />Existem eletrons emergindo em energia<br />e existem ervilhas em embalagens enlatadas,<br />e espamos estomacais educando essa essência.<br />Empresários enterrando empresas educadas.<br /><br />Existem emergências esperando esse escritor<br />em equadores eternos e escondidos entre erros<br />e embaixo encontra-se esse espasmódico esplendor.<br /><br />ELE esteve entre esses e emoldurado emudeceu,<br />estamos entre egocentricos esperando enterros<br />e entre esses eternos erros, estou eu!</p></div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-74046624781080720892008-05-30T10:21:00.000-07:002008-05-30T10:22:27.922-07:00Poema em preto e brancoMeus ouvidos estão ocupados<br />Entorpecidos por um rock<br />Em baixa voltagem,<br />Rimbaud passeia pela sala<br />E está no colo das pessoas.<br />E mais tarde<br />Sem rock<br />Surfarei versos franceses,<br />Ouvirei o tumultuo<br />Mudo de um túmulo,<br />Serei bucólico<br />Como Augusto dos Anjos,<br />Vomitarei uma poesia ácida<br />Nos fracos<br />Flancos do asfalto<br />De piche e ouro barroco<br />Como Gregório de Mattos,<br />Poesia; minha foto<br />Seus fatos são meus olhos<br />Olhos que ficam na história,<br />Esquecidos pelos caminhos,<br />Não amarei<br />E muito menos espancarei<br />O também belo Verlaine….<br />Socorro, socorram-me!<br />Os meus poros<br />Hoje, são poucos para tamanha<br />Acidez da vida,<br />Enquanto derrubam as gêmeas<br />Sem mãe<br />Pobres torres,<br />Oh, rica Manhatan em chamas<br />Pelos meus olhos<br />Filtro teus decassílabos<br />E danos,<br />Eu ouço o que clamas,<br />Seu sorriso capitalista<br />Agora cariado<br />Pelo fogo da incompreensão<br />São tantas quedas<br />E o tempo passando<br />Cai o muro de Berlim<br />Cai Hitler no caldeirão<br />De um passado<br />Hoje<br />Ontem<br />Outrora<br />Um passado<br />Já passado a limpo…<br />Oh, eram gêmeas também<br />As duas Alemanhas<br />Hoje se beijam com a mesma boca.<br />Caem estrelas atômicas<br />Sobre o pálido céu do Japão<br />Estrelas brancas e vermelhas<br />Azuis, sorriem<br />Um sorriso de pavor e alegria.<br />Céus, por que tantas queda?<br />E no Vietnã<br />Quantos caíram na cova dos leões<br />Como se fosse tudo aquilo<br />Mais uma vez a estupidez de um Coliseu…<br />Entre mortos com o mesmo golpe<br />De faca<br />De foice<br />De machado<br />De bala de canhão<br />Entre tantos golpes no coração<br />Já não sobraram homens<br />Pra todas as mulheres<br />Nem mulheres para todos nós.<br />Onde estão os restos<br />Dos corações dos poetas?<br />Onde está a perna amputada<br />De Rimbaud?<br />Cadê seus 37 anos de poesia?<br />Onde estou eu,<br />No fogo cruzado<br />Entre produtor e produto<br />Entre o cego que esmola<br />E a esmola que se dá em vão<br />Entre socialista e sanguinário<br />Entre o poeta que se entrega<br />A chuva como que se entrega<br />Ao chicote do feitor,<br />Entre o ódio e a libido<br />A doença e o comprimido<br />Tudo isso em um mesmo copo<br />De sangue e antibiótico.<br />O que faço com a cerveja<br />E a sede?<br />O que faço com o vinho<br />E a profecia?<br />O que faço com a vodca<br />E a poesia?<br />O que faço com a água<br />Mineral e a benta?<br />O que faço com a água<br />Que já é ardente?<br />Céus, como está gelada<br />Ela tem a faca<br />E eu tenho uma noite toda<br />Para morrer de sede<br />De sono<br />De tédio<br />De medo<br />De frio<br />De pena<br />De vergonha<br />De ódio<br />E apenas 27 anos<br />Para engolir todas estas madrugadas<br />Beber todas essas constelações<br />(Vomitar cada uma das estrelas)<br />Que sorriem no pálido<br />Céu dos vícios dos homens…<br />A circunferência da pupila<br />Sorri de medo<br />Medo de mim<br />Medo da noite<br />Da foice da morte<br />Medo dos meus versos<br />Medo do meu medo<br />E do meu amor<br />Medo de ver o tempo passar<br />Ter que viver toda vida<br />Em apenas uma semana…<br />Oh, menina<br />De olhos tão doces<br />De olhos tão distantes<br />De olhos tão límpidos<br />E de olhos tristes demais<br />De sorriso tão leve<br />Oh, menina<br />De olhar tão amargo<br />De olhos de fel<br />De olhos de carnificina<br />De olhos incertos demais<br />E sorriso tão denso.<br />Me diga o porque.<br />Por que choras<br />Ao me ver sorrir?<br />Ao ver cantar?<br />Ao ver flertar?<br />Ao me ter em seus braços?<br />Sorri para ver meu pranto?<br />Por que tantas dúvidas<br />Em um único olhar?<br />São tantas questões,<br />Mas um poeta não precisa<br />De suas respostas<br />Eu conheço todas<br />Decodifico todos os teus<br />Códigos de barra<br />Seus olhos já não me enganam<br />Teu sorriso<br />Aprendeu com as noites gastas<br />Em vão<br />Que é fácil descansar no meu ombro<br />Todas as tardes.<br />Talvez eu te ame<br />Ou de odeie<br />Te deseje<br />Teu sorriso<br />Teus seios<br />Teu ventre<br />Teu sexo<br />Teus olhos<br />Teus olhares<br />Teu toque<br />Em um toque apenas<br />Deseje tua nudez<br />A claro da lua<br />A luz do sol<br />A sombra da noite<br />Te quero, mas já não sei em que sentido<br />Talvez como naquele<br />Texto da Clarice Lispector<br />Te deseje ao contrario<br />Te deseje ao avesso<br />Mas os meus olhos já se perdem no vazio<br />De um livro vazio<br />Tento preencher o vazio<br />Do meu peito tão vazio…<br />Nesse momento se eu fosse<br />Leonardo, Paul ou Van Gougue<br />Pintaria a luz apagada<br />Deixada por teus passos<br />Na penumbra das minhas retinas<br />As sombras deixadas por teu caminhar<br />Já tão cheio de pressa,<br />Se fosse Caetano<br />Diria que o quadro é lindo,<br />Mas sou Édipo<br />Sou minha própria Jocasta<br />E por isso matarei Laio<br />Por que é minha obrigação<br />E para que a vida não deixe<br />De ser um mito,<br />Cuspirei<br />Todos os meus dentes de ouro<br />E enterrarei a todos em um sarcófago<br />Qualquer onde não haja luz<br />Nem paz<br />Pois prefiro as noites<br />As sombras, os olhos<br />De gatuno escondido nos becos…<br />Sou herdeiro de um poema morto<br />Aborto<br />Barco sem porto<br />Arroto<br />Poema enterrado na lama<br />Na palma da minha mão<br />Nas brasas do meu coração<br />Um coração em chamas…<br />Acredito na minha herança<br />Acredito no karma<br />Nos olhos que nada vem<br />Alem do medo que tem de ver<br />A si e seus medos obscuros,<br />Acredito que provarei o gosto<br />Do gosto<br />E dos desgosto<br />E nada será em vão<br />E mesmo assim serei vazio<br />Herdei a fumaça<br />E a carne mal passada<br />Da geração coca-cola,<br />Suas gripes<br />Suas overdoses<br />E o sabor doce mel e cru<br />Do seu câncer sem data.<br />Herdeiro de uma pátria<br />Sem patriotas<br />Só burgueses e patrícios<br />Cães se dono<br />Cães de guerra<br />Cães sarnentos<br />Cães e gatos que disputam um osso,<br />E esse osso está em mim<br />Soterrado em minha alma…<br />Não direi mais um único palavrão,<br />Oh, que bom, já sou um homem letrado<br />E sonho escalar<br />Todos os picos do mundo<br />O cume da vida<br />Todas as pirâmides do Egito<br />Sustentar toda a Índia<br />Sobre só um dos ombros…<br />Oh, como sou pobre e<br />Miserável de espírito<br />E como sinto saudades<br />Daquilo tudo que não conheci,<br />Minha existência já não é um fato<br />É meramente um fardo,<br />Sou um soldado de chumbo<br />Sem uma perna<br />Um Rimbaud de chumbo<br />Mas sem poesia e sem baioneta,<br />Perco-me na aventura<br />Mal resolvida da vida…<br />Chovam pedras a esmo,<br />Caiam rosas<br />Todas sobre minha cabeça<br />Fora de mim<br />Ao meu redor e por todos os cantos<br />E de minha lápide<br />De poeta faminto<br />Que chovam verdades tortas<br />Cruas e sãs<br />Sobre meus cabelos<br />Testados e reprovados<br />Pelos olhos da multidão…<br />A televisão no pátio<br />Mostra um duelo antigo<br />Uma guerra sem fim<br />Sem data<br />E sem vencedores<br />Mostra os céticos<br />Em sua peleja com os descrentes<br />Em pleno Maracanã<br />Um coliseu sem poesia<br />Sem sangue<br />Sem devoção<br />Sem Cézar<br />Dois times em pleno combate<br />Gladiadores órfãos<br />Que joguem<br />Que matem<br />Que morram<br />Que chovam gotas de amor sobre meus ombros<br />Cansados da vida,<br />Que chovam rumores<br />E vozes roucas<br />Sobre meu olhar sem Deus<br />E sem religião<br />Sem santos<br />Sem preces<br />E sem albergados em noites mais frias que essa…<br />Chovam corpos<br />Livres e tatuados<br />Caiam restos de cadáveres<br />Sobre minhas sobrancelhas<br />Que sobem e descem<br />A cada verdade<br />A cada mentira<br />A cada truque de um mágico mambembe<br />Chovam rosas vermelhas<br />Brancas<br />Rosas de todas as cores<br />Um arco íris de pétalas<br />Sobre as sombras de um velório<br />Sem corpo exposto<br />Sobre o corpo do esposo<br />Que se foi na chuva e ainda não voltou para a ceia<br />Chovam moscas e insetos<br />E chova chuva de verdade<br />Sobre as estradas que me levam<br />A coração da floresta<br />Ao coração da mulher<br />Que mora em uma floresta de dúvidas<br />Por detrás das muralhas da incerteza…<br />Céus, como sou torpe<br />Ao me banhar nestas águas<br />De um sorriso<br />Que frio chove sobre mim.<br />Lindo é o sorriso<br />Dos poetas que mentem<br />Por qualquer propina<br />Por qualquer centavo mal pago<br />Qualquer canção desafinada<br />E contrabandeiam versos de amor<br />Mas não conhecem os atalhos<br />Nem as estradas<br />Que levam ao coração<br />Um beijo<br />Uma rosa<br />A invenção da roda e da escrita<br />Destruiu os bárbaros<br />E criou os poetas<br />Mas estes não entenderam o porque<br />Não compreenderam os sinais<br />Não desvendaram os mistérios<br />Não souberam interpretar as cartas<br />Os búzios<br />As relíquias<br />Os telegramas<br />As runas<br />Os mistérios da natureza<br />E então apenas dançaram valsas<br />Sob a lua<br />E beberam o vinho que não deviam<br />Vinho que seria servido noutro banquete<br />E vomitaram vômitos de homem…<br />Céus, por que o tempo inventou os homens?<br />E por que os homens inventaram<br />O amor<br />A guerra?<br />O que é a guerra, meu Deus?<br />O que é o amor, meu Deus?<br />Meus Deus, pra onde devo ir?<br />O rei está nu<br />E é proibido o roque<br />O bote<br />O trote<br />Pois é o rei um escroque<br />Então, cheque mate!<br />Mas por mais que se mate<br />Sempre haverá um rei de pé,<br />Pisando sobre as chagas de seu povo<br />E esse povo será órfão<br />E o rei<br />Os bispos<br />A rainha<br />E seus peões<br />Lacaios sem patrão<br />Montados em seus cavalos<br />Seu tabuleiro se chamará vida<br />E o ultimo lance será do Tempo<br />Ultimo gambito<br />Ultima abertura<br />Ultima estrofe<br />Ultimo lance que será eterno<br />Será tudo o que o rei espera<br />Quando o rei cair<br />Esmagará seu povo<br />Mas o povo perdoará seu rei,<br />Por que ele é único<br />E assim será até o amanhecer….<br />A noite espera a queda da<br />Torre de Piza<br />Da torre Enfeou<br />Da muralha da China<br />Do cristo Redentor<br />E de tantas outras coisas inúteis e abstratas<br />Os olhos espreitam<br />Os ouvidos ouvem murmúrios<br />As bocas não mais se procuram<br />Se sim murmuram<br />E a torre não cai<br />Nada cai<br />Nenhum gota de chuva<br />Nenhuma pétala de rosa<br />Nenhum satélite russo<br />Nenhum caça americano<br />Nenhum avião da TAM<br />Apenas a noite é quem cai<br />A noite chove<br />Sua penumbra sobre as almas tristes<br />A noite sorri com olhos e com dentes<br />Ouço rock como nunca<br />Ouvirei em outra madrugada<br />Passarei todas as noites<br />Sonhando com uma poesia sem pudor<br />Sonharei sonhos secretos,<br />Muitos<br />Vários<br />Diferentes<br />Singelos<br />Torpes<br />Obscenos<br />Puros<br />Contagiosos<br />Diria infinitos sonhos em uma única noite<br />Distorcidos<br />Distraídos<br />Desmedidos<br />Destemidos<br />Desordenados<br />Disparatados<br />Dementes<br />Demorados<br />Demasiado turvos para meus olhos<br />Centenas deles bonitos<br />Bobos<br />Breves<br />Sonharei com arrepios<br />Acordarei muitas vezes<br />Gritando um certo nome<br />E tendo muita fome<br />Muita sede<br />E ainda mais sono<br />Céus, como vou dormir<br />Nos cabelos<br />Nos lábios de<br />Diva<br />Helena<br />Iracema<br />Clarissa<br />Ana Karenina<br />Ema Bovary<br />Tantas musas e deusas<br />Camponesas e burguesas<br />E por todos os sonhos<br />Que a vida me furtou…<br />As pedras estão vivas<br />As perdas estão intactas<br />A água corre entre as margens dos rios<br />As águas se perdem no sonho de serem pedras<br />E vomitar décadas<br />E placas tectônicas<br />E o tétano amarelado<br />De muitas e muitas eras<br />Os rios são veias<br />Chorando o sangue dos homens<br />Chorando as dores dos<br />Muitos partos ao longo dos tempos…<br />Meus cabelos estão fartos<br />A histeria da via<br />Por isso se entregam a correnteza<br />E descem rio a baixo<br />Mar a dentro<br />Vida a fora<br />E jamais desaguaram no oceano…<br />Vejam a pobre Joana D’Arc<br />Lutando contra os ingleses<br />19 anos<br />Em sua armadura<br />Com sua espada<br />Com sua lança<br />Com seu himem intacto<br />Céus, como somos hipócritas<br />Ela acreditava em Deus e por isso foi queimada<br />Cinco séculos depois a tiraram do forno<br />A serviram na ceia<br />Céus, como somos hilários<br />Ela já não existia e por isso foi canonizada<br />Pela janela a vejo<br />À frente de seu exercito<br />E tudo se vai<br />E tudo se foi<br />Com o advento do controle remoto<br />No entanto ainda somos os mesmos<br />Vermes de sempre<br />Devoramos toda a carne exposta<br />Seja ela de barro<br />Ou de ouro com brilhantes<br />O relógio marca<br />A hora do almoço<br />A santa hora dos vermes<br />Que comem a vida<br />E brindam o dia da morte…<br />Noite a dentro<br />O vomito e o asco de mim mesmo<br />E de meus inventos<br />Meus rebentos poéticos<br />Devoro sílabas temperadas com<br />Sal<br />Cal<br />Sereno e<br />Sacrilégio<br />E as lágrimas já são doces<br />De tanta insistência<br />Quando brinco sou mistério<br />Quando falo sério<br />Simplesmente não sou<br />Não estou<br />Sonho com uma barraca<br />Pode ser de lona<br />E uma mochila<br />Tudo em uma enorme estrada<br />Que vai do nada ao nada<br />Mas acordo<br />E o nada está aqui<br />Ao meu redor<br />Dentro de mim<br />Vazando dos meus olhos<br />Correndo por minhas veias<br />Dançando ao meu redor<br />Saltando por sobre minha cabeça<br />Um nada imutável<br />Tudo imutável<br />Ao meu redor<br />Meus amigos são estéreis<br />Minhas amigas são todas frigidas<br />E todo o nosso tesão<br />Morreu na primeira curva<br />Somos todos doces<br />Doces demais<br />Céus, como somos doces,<br />Principalmente eu<br />Somos todos fracos<br />Fracos demais<br />Eu mais do que ninguém<br />Somos loucos<br />Loucos demais<br />Mas estamos vivos<br />Céus, e como estamos vivos.<br />Como e nossa vida?<br />Ora, que pergunta!<br />Batalhamos por bebida<br />Na porta das igrejas<br />Comemos o que?<br />Ora, que pergunta!<br />Buscamos alimento nas portas das bibliotecas.<br />Todas as noites sonhamos<br />Com sorrisos de verdade<br />Sonhamos sonhos de criança<br />Céus, como somos inocentes<br />Inocentes demais<br />Principalmente eu…<br />Passaram-se os dias<br />De furiosas tormentas<br />Mas ainda preciso<br />Fazer um poema<br />E lavar o meu prato…<br />Se Platão estava certo<br />O tempo não passou<br />E eu sou o mesmo<br />De uma hora atrás<br />Se ele estiver certo<br />Eu estou redondo e enganado,<br />Não estou mais aqui<br />Nem acolá<br />Nem agora<br />Nem nunca mais<br />Mas neste momento nada importa<br />Se meu pulmão está certo<br />Ainda respiro ar<br />Ainda pressinto o ar<br />Ainda necessito de ar<br />E meu estomago logo mais<br />Gritará por qualquer coisa<br />E meu coração ainda bate<br />Por que se eu estiver errado,<br />Mesmo assim ainda estarei vivo…<br />Do outro lado do Equador<br />Os ralos<br />As latrinas<br />Os loucos<br />Os solitários<br />As ratazanas<br />Os boçais<br />Coitados, não são mais os mesmos<br />Não sorriem<br />Seu sorriso<br />É deste lado<br />A linha do Equador é logo ali<br />Na palma da minha mão<br />Se confunde com a linha da vida<br />Com a linha do destino<br />Pois a vida é uma rua de mão dupla<br />E nada disso impede<br />Que eu seja sugado por um enorme ralo<br />Girando<br />Um fuso horário confuso<br />E me vendo<br />Por quase nada<br />O dólar<br />O euro<br />O real<br />O ien<br />Já não me compram<br />Pois não me vendo a esta hora<br />Somente ao anoitecer<br />E tenho sido tupi guarani<br />Até as raízes dos cabelos….<br />Sou, por hora, por ainda agora,<br />Por mais algumas estrofes,<br />Um monossílabo tônico<br />E minha garganta<br />Se surpreende<br />Vendo os homens grunhirem<br />Seus versos imorais<br />Toda a lascívia verbal<br />Danifica meu ego<br />De (suposta por todos<br />E até por mim mesmo)<br />Pureza intocada<br />É assim que defendo<br />Minha poesia<br />Como única<br />Entre todas as que são únicas<br />E como José Paulo Paes<br />A minha rua também é curta…<br />Sinto uma saudade<br />Tão grande dos versos<br />De tempos atrás<br />Céus, eles eram sinceros<br />Eram a verdade<br />Meus versos de hoje são míopes<br />Não enxergam um palmo<br />A frente do nariz<br />E além do mais<br />São politicamente incorretos<br />A esta hora da madrugada<br />Já sucumbem ao licor<br />A aspirina<br />A cafeína<br />Uma grande nuance de tônicas<br />E águas tônicas<br />Pobres de meus versos<br />Que já não podem voar<br />Além de sua própria miopia<br />Seus músculos são pobres<br />Seus nervos cansados<br />Todo seu corpo<br />Seu verso<br />Cada estrofe<br />Tudo está flácido<br />Está morto<br />E já devo dar a mão<br />Com alguém que ainda não chegou<br />E juntos ir até o velório<br />Que ainda não começou<br />Assim como meus versos<br />Estou desnutrido<br />De fé e de inspiração<br />Ambos morremos junto<br />Carregamos um fardo<br />Que não é nosso de fato.<br />A lei áurea não nos libertou<br />E ainda vivemos, eu e meu verso<br />Mais antigo,<br />Com grilhões<br />atados a consciência….<br />ou serei eu cego?<br />O último dos crédulos?Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-14893255383138233982008-05-16T05:19:00.001-07:002008-05-16T05:19:48.749-07:00ANTOLOGIAS IN ANEXO<h3 class="post-title entry-title"> </h3> <div class="post-body entry-content"> <p style="text-align: justify;">Portal criado pelo escritor junqueiropolense, Odair J. Alves. O Antologias In Anexo é um portal para livre discussão de idéias, divulgação de textos e trabalhos artisticos em geral. É proibido a publicacão de trabalhos de conteúdo pornográfico, bem como qualquer tipo de material ofencivo a pessoas ou instituições. Serão aceitos os mais diversos trabalhos, sejam eles de cunho, artistico, filosófico, político, e nas mais variadas formas de expressão, tais como obras em prosa e verso, abranjendo todas as vertentes existentes, materias escritos, aúdios, vídeos, fotografias e outros.<br />Os materias devem ser enviados por e-mail para o endereço eletrônico do Antologias In Anexo, em CONTATO, após recebido será averiguada a legtimidade dos mesmos, e se estão de acordo com as normas do Antologias In Anexo. Os trabalhos serão publicados apenas como forma de divulgação.<br />O Antologias In Anexo, tem como objetivo construir um núcleo comum, um ponto de encontro entre artistas, ativistas e pesandores em geral de todo o Oeste Paulista.<br />Portal sem fins lucrativos.</p> <div style="text-align: justify;"> </div> <p style="text-align: justify;">IMPORTANTE:<br />Quando, por ocasião do envio de seu primeiro trabalho, pedimos que envie também uma pequena biografia, para que possamos anexar em AUTORES.</p> <div style="text-align: justify;"> </div> <p style="text-align: justify;">Obrigado.<br />Seja bem vindo.</p></div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-48518471323854759582008-05-15T12:44:00.000-07:002008-05-15T14:38:35.195-07:00Fotos da Cidade de Irapuru (cidade caçula)<a href="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCys-TghFPI/AAAAAAAAAOg/fpo_FA-nO6I/s1600-h/Imagem+052.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCys-TghFPI/AAAAAAAAAOg/fpo_FA-nO6I/s200/Imagem+052.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200721856094606578" /></a><br /><a href="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCys-zghFQI/AAAAAAAAAOo/uNaRb5EWMPs/s1600-h/Imagem+063.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCys-zghFQI/AAAAAAAAAOo/uNaRb5EWMPs/s200/Imagem+063.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200721864684541186" /></a><br /><a href="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyovDghFKI/AAAAAAAAAN4/w3GhjFwiJQs/s1600-h/Imagem+040.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyovDghFKI/AAAAAAAAAN4/w3GhjFwiJQs/s200/Imagem+040.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200717196055090338" /></a><br /><a href="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyovjghFLI/AAAAAAAAAOA/LV1pTNWnvZg/s1600-h/Imagem+041.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyovjghFLI/AAAAAAAAAOA/LV1pTNWnvZg/s200/Imagem+041.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200717204645024946" /></a><br /><a href="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyovjghFMI/AAAAAAAAAOI/2zegmB_MA2Y/s1600-h/Imagem+045.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyovjghFMI/AAAAAAAAAOI/2zegmB_MA2Y/s200/Imagem+045.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200717204645024962" /></a><br /><a href="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyovzghFNI/AAAAAAAAAOQ/bLDMlN1EaME/s1600-h/Imagem+048.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyovzghFNI/AAAAAAAAAOQ/bLDMlN1EaME/s200/Imagem+048.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200717208939992274" /></a><br /><a href="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyowTghFOI/AAAAAAAAAOY/P5c98JxJ2Fw/s1600-h/Imagem+056.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyowTghFOI/AAAAAAAAAOY/P5c98JxJ2Fw/s200/Imagem+056.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200717217529926882" /></a><br /><a href="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCygmzghFFI/AAAAAAAAANQ/l2mHfU1ZSHM/s1600-h/Imagem+023.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCygmzghFFI/AAAAAAAAANQ/l2mHfU1ZSHM/s200/Imagem+023.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200708258228147282" /></a><br /><a href="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCygnTghFGI/AAAAAAAAANY/lxFRm3BfazQ/s1600-h/Imagem+024.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCygnTghFGI/AAAAAAAAANY/lxFRm3BfazQ/s200/Imagem+024.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200708266818081890" /></a><br /><a href="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCygnjghFHI/AAAAAAAAANg/lJeCxIV2xZs/s1600-h/Imagem+030.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCygnjghFHI/AAAAAAAAANg/lJeCxIV2xZs/s200/Imagem+030.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200708271113049202" /></a><br /><a href="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCygoDghFII/AAAAAAAAANo/9dm97B_jhrw/s1600-h/Imagem+033.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCygoDghFII/AAAAAAAAANo/9dm97B_jhrw/s200/Imagem+033.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200708279702983810" /></a><br /><a href="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCygojghFJI/AAAAAAAAANw/TzIcLcdFLAQ/s1600-h/Imagem+039.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCygojghFJI/AAAAAAAAANw/TzIcLcdFLAQ/s200/Imagem+039.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200708288292918418" /></a><br /><a href="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyZlDghFAI/AAAAAAAAAMo/Jb8RAyxoYXQ/s1600-h/Imagem+009.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyZlDghFAI/AAAAAAAAAMo/Jb8RAyxoYXQ/s200/Imagem+009.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200700531581981698" /></a><br /><a href="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyZmjghFBI/AAAAAAAAAMw/iSDwnbaYUPE/s1600-h/Imagem+011.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyZmjghFBI/AAAAAAAAAMw/iSDwnbaYUPE/s200/Imagem+011.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200700557351785490" /></a><br /><a href="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyZoDghFCI/AAAAAAAAAM4/p5AmIJWgIdo/s1600-h/Imagem+012.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyZoDghFCI/AAAAAAAAAM4/p5AmIJWgIdo/s200/Imagem+012.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200700583121589282" /></a><br /><a href="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyZoTghFDI/AAAAAAAAANA/dE6RhTbW2Tc/s1600-h/Imagem+021.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyZoTghFDI/AAAAAAAAANA/dE6RhTbW2Tc/s200/Imagem+021.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200700587416556594" /></a><br /><a href="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyZpzghFEI/AAAAAAAAANI/tx00Q8A_gJA/s1600-h/Imagem+022.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyZpzghFEI/AAAAAAAAANI/tx00Q8A_gJA/s200/Imagem+022.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200700613186360386" /></a><br /><a href="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyVhTghE8I/AAAAAAAAAMI/uwbOhhWuAZs/s1600-h/Imagem+001.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyVhTghE8I/AAAAAAAAAMI/uwbOhhWuAZs/s200/Imagem+001.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200696069110961090" /></a><br /><a href="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyVhzghE9I/AAAAAAAAAMQ/4buWNNjpCqo/s1600-h/Imagem+002.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyVhzghE9I/AAAAAAAAAMQ/4buWNNjpCqo/s200/Imagem+002.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200696077700895698" /></a><br /><a href="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyViTghE-I/AAAAAAAAAMY/rgoGD8XvoS8/s1600-h/Imagem+006.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyViTghE-I/AAAAAAAAAMY/rgoGD8XvoS8/s200/Imagem+006.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200696086290830306" /></a><br /><a href="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyViTghE_I/AAAAAAAAAMg/oiilvbTRohE/s1600-h/Imagem+008.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCyViTghE_I/AAAAAAAAAMg/oiilvbTRohE/s200/Imagem+008.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200696086290830322" /></a>alaor lacerdahttp://www.blogger.com/profile/12337126696556541295noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-6252197165351568822008-05-14T06:08:00.001-07:002008-05-14T06:09:54.163-07:00ANTOLOGIASINANEXO<p style="text-align: justify;">Portal criado pelo escritor junqueiropolense, Odair J. Alves. O Antologias In Anexo é um portal para livre discussão de idéias, divulgação de textos e trabalhos artisticos em geral. É proibido a publicacão de trabalhos de conteúdo pornográfico, bem como qualquer tipo de material ofencivo a pessoas ou instituições. Serão aceitos os mais diversos trabalhos, sejam eles de cunho, artistico, filosófico, político, e nas mais variadas formas de expressão, tais como obras em prosa e verso, abranjendo todas as vertentes existentes, materias escritos, aúdios, vídeos, fotografias e outros.<br />Os materias devem ser enviados por e-mail para o endereço eletrônico do Antologias In Anexo, em CONTATO, após recebido será averiguada a legtimidade dos mesmos, e se estão de acordo com as normas do Antologias In Anexo. Os trabalhos serão publicados apenas como forma de divulgação.<br />O Antologias In Anexo, tem como objetivo construir um núcleo comum, um ponto de encontro entre artistas, ativistas e pesandores em geral de todo o Oeste Paulista.<br />Portal sem fins lucrativos.</p> <div style="text-align: justify;"> </div> <p style="text-align: justify;">IMPORTANTE:<br />Quando, por ocasião do envio de seu primeiro trabalho, pedimos que envie também uma pequena biografia, para que possamos anexar em AUTORES.</p> <div style="text-align: justify;"> </div> <p style="text-align: justify;">Obrigado.<br />Seja bem vindo.</p>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-78789182496158541092008-05-13T13:32:00.002-07:002008-05-14T10:15:34.241-07:00fotos de cidades<a href="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCoE1TghE1I/AAAAAAAAALQ/9HmKIzCfwpU/s1600-h/Imagem+078.jpg"><img style="cursor: pointer;" src="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCoE1TghE1I/AAAAAAAAALQ/9HmKIzCfwpU/s200/Imagem+078.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199974033568895826" border="0" /></a><br /><a href="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCoE1jghE2I/AAAAAAAAALY/z2Adp6yrPp4/s1600-h/Imagem+077.jpg"><img style="cursor: pointer;" src="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCoE1jghE2I/AAAAAAAAALY/z2Adp6yrPp4/s200/Imagem+077.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199974037863863138" border="0" /></a><br /><a href="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCoE1zghE3I/AAAAAAAAALg/-MTjpOjZuwc/s1600-h/Imagem+076.jpg"><img style="cursor: pointer;" src="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCoE1zghE3I/AAAAAAAAALg/-MTjpOjZuwc/s200/Imagem+076.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199974042158830450" border="0" /></a><br /><a href="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCoE2jghE4I/AAAAAAAAALo/F9Ig7E3_ahc/s1600-h/Imagem+075.jpg"><img style="cursor: pointer;" 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src="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn_ZDghExI/AAAAAAAAAKw/Cn8BsfRF9v4/s200/Imagem+082.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199968050679452434" border="0" /></a><br /><a href="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn_ZzghEyI/AAAAAAAAAK4/CPU7GxwJfQM/s1600-h/Imagem+081.jpg"><img style="cursor: pointer;" src="http://bp3.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn_ZzghEyI/AAAAAAAAAK4/CPU7GxwJfQM/s200/Imagem+081.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199968063564354338" border="0" /></a><br /><a href="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn_ajghEzI/AAAAAAAAALA/eQfLjwA_LTc/s1600-h/Imagem+080.jpg"><img style="cursor: pointer;" src="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn_ajghEzI/AAAAAAAAALA/eQfLjwA_LTc/s200/Imagem+080.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199968076449256242" border="0" /></a><br /><a href="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn_bDghE0I/AAAAAAAAALI/pDSCoYGBy78/s1600-h/Imagem+079.jpg"><img style="cursor: pointer;" src="http://bp0.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn_bDghE0I/AAAAAAAAALI/pDSCoYGBy78/s200/Imagem+079.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199968085039190850" border="0" /></a><br /><a href="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn8ITghErI/AAAAAAAAAKA/0JYiMXRz3WU/s1600-h/Imagem+088.jpg"><img style="cursor: pointer;" src="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn8ITghErI/AAAAAAAAAKA/0JYiMXRz3WU/s200/Imagem+088.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199964464381760178" border="0" /></a><br /><a href="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn8ITghEsI/AAAAAAAAAKI/4xnD0igr-4w/s1600-h/Imagem+087.jpg"><img style="cursor: pointer;" src="http://bp1.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn8ITghEsI/AAAAAAAAAKI/4xnD0igr-4w/s200/Imagem+087.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199964464381760194" border="0" /></a><br /><a href="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn8IjghEtI/AAAAAAAAAKQ/ulSSMkX6C8I/s1600-h/Imagem+086.jpg"><img style="cursor: pointer;" src="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn8IjghEtI/AAAAAAAAAKQ/ulSSMkX6C8I/s200/Imagem+086.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199964468676727506" border="0" /></a><br /><a href="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn8IjghEuI/AAAAAAAAAKY/BBzS_PKvE3Q/s1600-h/Imagem+085.jpg"><img style="cursor: pointer;" src="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn8IjghEuI/AAAAAAAAAKY/BBzS_PKvE3Q/s200/Imagem+085.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199964468676727522" border="0" /></a><br /><a href="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn8IjghEvI/AAAAAAAAAKg/qS60tQN-u1M/s1600-h/Imagem+084.jpg"><img style="cursor: pointer;" src="http://bp2.blogger.com/_nwpYUNzFmQs/SCn8IjghEvI/AAAAAAAAAKg/qS60tQN-u1M/s200/Imagem+084.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199964468676727538" border="0" /></a>alaor lacerdahttp://www.blogger.com/profile/12337126696556541295noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-2108501285941086972008-05-13T10:43:00.000-07:002008-05-13T10:44:01.745-07:00ANTOLOGIAS IN ANEXO<p style="text-align: justify;">Portal criado pelo escritor junqueiropolense, Odair J. Alves. O Antologias In Anexo é um portal para livre discussão de idéias, divulgação de textos e trabalhos artisticos em geral. É proibido a publicacão de trabalhos de conteúdo pornográfico, bem como qualquer tipo de material ofencivo a pessoas ou instituições. Serão aceitos os mais diversos trabalhos, sejam eles de cunho, artistico, filosófico, político, e nas mais variadas formas de expressão, tais como obras em prosa e verso, abranjendo todas as vertentes existentes, materias escritos, aúdios, vídeos, fotografias e outros.<br />Os materias devem ser enviados por e-mail para o endereço eletrônico do Antologias In Anexo, em CONTATO, após recebido será averiguada a legtimidade dos mesmos, e se estão de acordo com as normas do Antologias In Anexo. Os trabalhos serão publicados apenas como forma de divulgação.<br />O Antologias In Anexo, tem como objetivo construir um núcleo comum, um ponto de encontro entre artistas, ativistas e pesandores em geral de todo o Oeste Paulista.<br />Portal sem fins lucrativos.</p> <div style="text-align: justify;"> </div> <p style="text-align: justify;">IMPORTANTE:<br />Quando, por ocasião do envio de seu primeiro trabalho, pedimos que envie também uma pequena biografia, para que possamos anexar em AUTORES.</p> <div style="text-align: justify;"> </div> <p style="text-align: justify;">Obrigado.<br />Seja bem vindo.</p> <div style="text-align: justify;"> </div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-66041150238183543082008-05-13T10:41:00.000-07:002008-05-13T10:42:19.628-07:00Desatar<p>Ao rever a irreversivel<br />matéria da vida, constato, vivendo<br />que não só é oxidável<br />como também é triste</p> <p>E por mais que possa ser possivel<br />refazer e desfazer o que não entendo<br />e transformar tão inafavel<br />matéria, que insiste</p> <p>Em Corroer-se por si só<br />na indestrutivel roda dos anos.<br />Ao rever tudo o que foi deixado</p> <p>à um legado de eterno pó<br />de matéria morta, constato, estupefado<br />que é vital desatar todos esses nóis.</p>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-22956321958829032572008-05-13T10:40:00.000-07:002008-05-13T10:41:28.881-07:00De tudo o que me infesto<div class="entry"> <div class="snap_preview"><p>Há em cada um de nós, um gesto<br />que é mistura de tristeza e protesto<br />e é de tudo isso que eu me insfesto<br />ao sentir-me assim, quase que morto</p> <p>Há em cada um de nós, marcas pelo corpo,<br />Resultantes da doença e do incesto<br />e é de tudo isso que eu me infesto<br />nessa mistura de tristeza e protesto.</p> <p>Há em cada um de nós, restos de um grito<br />Resultado de um silêncio precipitado<br />e é de tudo isso que eu me infesto</p> <p>E me canso, então, morto e derrotado<br />Nesse silêncio triste é que assisto,<br />eternamente, o aborto destronar o feto.</p> </div> </div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-11055867762442573932008-05-13T10:39:00.000-07:002008-05-13T10:40:05.999-07:00Coito<div class="entry"> <div class="snap_preview"><p>Já no último ato do amor<br />quando desinrigesse-se a fibra<br />do sexo, uma gota se equilibra,<br />ainda, em cada pétala da flor</p> <p>e se espalha pelos corpos unidos<br />onde nos íntimos ainda vibra<br />um desejo intenso, que calibra<br />o prazer nos orgãos vencidos</p> <p>pelo passado extase ofegante,<br />onde mergulharam num instante<br />e se ligaram a cada gesto</p> <p>duas almas puras e irmãs,<br />onde seus corpos e mentes sãs<br />comemoram um ato de incesto.</p> </div> </div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-20221623198057507632008-05-13T10:38:00.000-07:002008-05-13T10:39:03.915-07:00sensações<div class="entry"> <div class="snap_preview"><p>Sinto sensações simples<br />sonho saborear seu sorriso<br />sentir sua suavidade sempre<br />Sozinho; sinto saudades suas.</p> <p>Sabe; sonho ser seu súdito<br />suprir, sufocar sua solidão<br />saber sobre seus segredos<br />satisfazer seus sonhos.</p> <p>Solitário sinto sensações sufocantes<br />sonho sonhos sem significados<br />sobra somente seu sorriso.</p> <p>Sorrio só sabendo sobre seu sorriso,<br />sabendo ser sincero seu semblante<br />serei sempre seu semoto sonetista.</p> </div> </div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-54188859993093150772008-05-08T11:03:00.000-07:002008-05-12T11:42:26.180-07:00ANTOLOGIAS IN ANEXO<h3 class="post-title entry-title"> </h3> <div class="post-body entry-content"> <h3 class="post-title entry-title"> </h3> <div class="post-body entry-content"> <div class="post-body entry-content"> <div class="snap_preview"><p style="text-align: justify;">Portal criado pelo escritor junqueiropolense, Odair J. Alves. O Antologias In Anexo é um portal para livre discussão de idéias, divulgação de textos e trabalhos artisticos em geral. É proibido a publicacão de trabalhos de conteúdo pornográfico, bem como qualquer tipo de material ofencivo a pessoas ou instituições. Serão aceitos os mais diversos trabalhos, sejam eles de cunho, artistico, filosófico, político, e nas mais variadas formas de expressão, tais como obras em prosa e verso, abranjendo todas as vertentes existentes, materias escritos, aúdios, vídeos, fotografias e outros.<br />Os materias devem ser enviados por e-mail para o endereço eletrônico do Antologias In Anexo, em CONTATO, após recebido será averiguada a legtimidade dos mesmos, e se estão de acordo com as normas do Antologias In Anexo. Os trabalhos serão publicados apenas como forma de divulgação.<br />O Antologias In Anexo, tem como objetivo construir um núcleo comum, um ponto de encontro entre artistas, ativistas e pesandores em geral de todo o Oeste Paulista.<br />Portal sem fins lucrativos.</p> <div style="text-align: justify;"> </div> <p style="text-align: justify;">IMPORTANTE:<br />Quando, por ocasião do envio de seu primeiro trabalho, pedimos que envie também uma pequena biografia, para que possamos anexar em AUTORES.</p> <div style="text-align: justify;"> </div> <p style="text-align: justify;">Obrigado.<br />Seja bem vindo.</p> <div style="text-align: justify;"> </div> <p style="text-align: justify;"> Editores.</p> </div></div></div></div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-28422530034371472102008-05-08T11:01:00.000-07:002008-05-08T11:02:50.440-07:00Dorme Rita<div class="entry"> <div style="text-align: justify;"> </div> <div class="snap_preview"><p style="text-align: justify;">Um conto inacabado</p> <div style="text-align: justify;"> </div> <p style="text-align: justify;">Ricardo juntou as mãos e tirou dos olhos o olhar remelento, então seus olhos desabarabam, sem brilho, na pia e toda sua coragem desceu ralo abaixo em um glup glup nostalgico. Sem forças forças suficientes para voltar-se ao espelho, retornou para a poltrona onde já estava a a mais de um ano.<br />A sala escura e os moveis frios o abraçaram como aprenmderema a fazer todo o amanhecer e já não era possivel distingui-lo da mobilha, os mesmos olhos de sempre, posados na mesma foto criaram sua propria vida dentro do cubiculo morto da sala de estar.<br />A enorme foto de uma mulher com olhos redondos que lembram buricas coloridas espalhando luzes como estrelas na madrugada, um rosto oval cortado por um nariz bonito e uma boca tirada de anuncio de batons exóticos, tudo isso era o rosto de Rita, senhora absoluta daquela sala.<br />Sobre amesa duas taças de vinho pela metade, ambas ligadas por um tenue fio de teia de asranha, frascos de um comprimidpo para dormir, um revolver e muitas fotosd em preto e branco e em dezenas de outras cores que a escuridão da sala já não revela a lucidez. dentre todos os objetos, no entanto, os unicos que parecem ainda fazer parte da realidade são a velha maquina de escrever e uma garrafa de wisk pela metade e os unicos sinais de que aindam moram alguns sentimenstos são o ranger quase demente da poltrona que gane de quando em quando e as folhas amassadas que foram o chão.<br />Todas as manhãs, desde a morte de Rita, Ricardo se olha no espelho e seus olhos desabam na pia e descem ralo abaixo. Já pensou inumeras vezes em quebras o espelho para salvar seus olhos, mas de certa forma não quer salva-los. Tem medo de que seus olhos ganhem vida propria como os olhos das fotos espalhadas pelas paredes. Olhos que o espiam o dia todo, a noite inteira, torturando-o com o silencio. Fotos de Rita se espalham pela sala, caras, bocas, nariz e cochas de uma mulher que não morreu totalmente. Olhos que estão pela sala e enfrentam a intensa escuridõa do desejo de Ricardo.<br />As folhas que estão amassadas no chão são as ultimas gotas de uma sanidade que lentamente vai deixando de pingar. Ricardo é alguem que ainda tenta sorrir pelos cantos dos olhos, mas cada folha amassada sera uma peça que ira faltar no quebra cabeças de seu riso. Seu silencio já é a muito tempo quase musical, tem tons leves de um desespero contido a força de muito pranto. Ricardo, seu silencio, e seu desespero são coisas tão solidas quando aquela poltrona, aquela mesa e todas as paredes que lhe enjaulam o desejo.<br />Ele estica os olhos e suas retinas então abraçam a maquina de escrever, a engrenagem da memoria falha, mas ele tenta buscar no amago do tempo sua vida e o papel daquela maquina em sua existencia. As imagens confundem-se e rodopiam como passos de um bailarino desesperado sobre o teclado da maquina, seu matraquear se espalha pela penumbra e antes que atinja lhe os ouvidos já são gemidos agonizantes e Ricardo novamente vê parado ao lado da poltrona a sombra sem nome que o visita sempre, as vezes um homem, outras vezes uma mulher, mas ele prefere acreditar que seja o proprio demonio.<br />“Pensando naquela vadia?” Pergunta-lhe a sombra numa voz que ele não consegue distunguir o timbre do sexo.<br />Ricardo tem impetos de reagir como sempre faz, gritar, tentar esmurrar a sombra, varrer e busca inutilmente o revolver e por fim no apice do desespero engolir os comprimidos e abraçar sorrindo seu desejo de morte. No entanto, hoje ele não tem forças, seus labios estão secos e sua garaganta de tantos brados a pureza da Rita a beatitude que ele acredita emanar dela. Ele tem os olhos cansados de tanto que chorou e de tanto que já olhou para a amesma foto, mas ele ainda deseja ve-la sobre todos os angulos ao mesmo tempo. Seus musculos já estão exaustos, mas ele ainda corre madrugada a dentro tentando abraçar uma mulher que na verdade está apenas nele e na penumbra a seu redor, penumbra que já faz parte de sua alma, apesar de toda a solidez que tem.<br />Nesta manhã tudo está como sempre esteve nas outras tantas manhas, mas falta-lhe algo, falta-lhe a força, a disposição, a coragem que escorre pouco apouco a toda manhã de seus olhos e escorre abaixo no ralo da pia. E não importa o que a sombra do demonio lhe diga, ele não ouvira, não vera e não tera mãos para tocar em nada.<br />Como em todas as manhas desde a morte de Rita, o sol nasce lá fora, mas dentro da casa Ricardo e seus medos não tomam conhecimento de seu calor ou luz, e o sol por sua vez não encontra forças para rasgar a prepotencia das cortinas escuras que abraçam a sala, os quartos e todos os outros aposentos.<br />Na casa, alem de Ricardo, vivem sua irmã Debora e a amiga Dulce, mas elas tem seu proprio mundo dentro daquele mundo pantanoso da casa, nelas ainda vem-se vestigios de uma sanidade que embora vesga tenta ver a luz que não consegue atravessar as paredes.<br />Para Ricardo o telefone não toca, as cartas nunca mais vieram e msmo que viessem ele não teria coragem suficiente para rasgar o envelope e o tinir do telefone seria apenas um grito distante ao qual se perde a persepção com um mover de cabeça. O tempo parou e o retrato maior na parede é apenas uma porta na qual Rita está encostada no batente, sem nunca entrar totalmente e sem nunca fugir por inteira.<br />Enquanto Ricardo está sentado ali como esteve nos ultimos meses mastigando as reminicencias que mastigou nos ultimos tempos, lá fora a manha aborta prematuramente um novo dia. Um dia de finados. O tempo parece estar vestindo uma mascara hedionda roubada de algum personagem mitico de Nelson Rodrigues e talver por isso as pessoas caminhem tristes pelas trilhas e coredores estreitos entre os tumulos no pequeno e frio cemiterio.<br />Dentro da casa Ricardo se veste como se vestiu na noite do velorio de Rita, todo de preto, e agora quase um ano depois o pretume de seu traje parece se confundir com o pavor que sente do mundo lá fora e com apenumbra que o faz uma estatua de pedra sentado em um tono de mesma solidez. Do mesmo preto que ele se veste estão vestidas tambem Debora e Dulce, que caminham lentas até a sepultura esquecida de Rita, enquanto Ricardo se desdobra para içar-se do sofa e caminhar até a maquina de escrever, as duas dobram os joelhos para rezarem e depositarem flores ao pé do tumulo. E como que se ligados por um relampejo de cumplicidade ao redor da mesma saudade que sentem de Rita, os tres balbuciam a mesma palavra ao mesmo tempo, as duas com os labios semi abertos e ele com os dedos lentos sobre o teclado da maquina.<br />Debora e Dulce, de certo modo, possuem almas gemeas, como se seus corações fossem apenas um, compartilham de tantas coisas que as vezes se confundem dizenso ao mesmo tempo as mesmas palavars. Elas tambem estão vestidas da mesma maneira desde a noite do velorio e não sabem quanto tempo realmente se passou, na casa onde moram com Ricardo não existem calendarios e nem relogios e au unica coisa que impera o tempo todo é a noite, que já parece estar querendo roubar delas a razão como já fez com Ricardo.<br />O que elas sentem não conseguem explicar, mas unidas compreendem-se perfeitamente, ambas estão palidas como estatuas de cera e suas mãos postas como as patas de um louva deus parecem desmentir um pequeno vestigio de furia que ainda viceja no fundo de seus olhares.<br />É o primeiro dia de finados depois da morte de Rita, elas não se lembarm quando foi que ela entrou em suas vidas, mas se lembarm dela perfeitamente assim como as mães se lembram dos sorrisos infantis de suas crias mesmo quando esses já são adultos ingratos, e o sorriso dela era como uma metafora esculpida em um poema abstrato, quase inpossivel a compreensão, mas ele está marcado a ferro e fogo dentro de suas lembranças.<br />Existem outras imagens alem do sorriso, coisas como um andar genuino e cheio de um gingado somente dela, olhos cor de mel e outros detalhhes que insistem em se perderem nos borrõs das cores frias do tempo, mas Rita apesar de tudo parece olaha-las intacta da sepultura. Seus joelhos doem, a falta de habito de se porem de joelhos as castiga, mas as palavras murmuradas por bocas coencidentes parecem estrangular um gemido que deveria ser de dor.<br />Ricardo tem os dedos sobre o teclado da maquina e escreve como quem já tem o corpo moido pela travessia de um deserto por dias e dias, sem agua ou sombra, sua agonoa é visivel mesmo abraçada pela solidez da penumbra e poderia até mesmo ser manipulada se a vida de repente se tornasse um palco de marionetes.<br />Ele mal se lembra de si mesmo, a não ser apenas que lhe falta uma parte, que lhe foi tirada parte sem a qual seu inteiro se anula. Há momentos em que frragmentos de seu passado lhe chovem a frente dos olhos, mas logo vem a calmaria da insanidade. Ele não tem certeza de como ela se foi, sabe apenas que um dia ela estava e nou outro já não mais estava com ele. Agora vê o demonio deslizar pela sala, mas não é somente ele que o vem visitar, nos ultimos dias ele tem aimpreção de ver Rita deslizando nua pela penumbra e sempre com o dedo indicador colado ao labio em pedido de silencio. O que ele ainda lhe poderia dizer? Compos tantos versos para ela. Cantou-lhe tanto amor, sua obra roubou-lhe todas as palavras e as entrgou de bandeija para Rita. E com sua morte todas as palavras o abandonaram, indo para longe, indo para alem do horizonte, para alem de seu tato, para alem de sua capacidade de amar e de escrever versos para este amor.<br />Um poema para ele era como o ar, a rima como uma quada d’agua, e seu verso como uma ilha cercada de ondas mansas por todos os lados e de repente tudo se transformou em uma Atlantida sem antiteses e nem metaforas, submergindo emum oceano de dor. Ricardo não se reconhece no espelho, as maças do rosto salientes, os olhos roubados, olhos de quem perde os olhos todas as manhas na pia do banheiro, e uma baba de quase trezentos dias.<br />Em relampejo desesperado ele, as vezes, se lança sobre a maquina e poem -se a surrar-lhe o teclado, na esperança de produzir um unico verso, mas nada lhe brota da alma, sua exencianão lhe vaza dos poros, não existem mais influencias capazes de o inspirar. Pelas estantes mergulham na solidão Verlaine, Rimbaud e tantos outros que ele tentou beber os versos na esperança de ejacular alguma coisa menos amarga que a existencia.<br />A Rita quando viva substitui todos os poetas mortos, cada canto de sua alma foi preenchido por uma nova gota de paz, seu aceno de chegada ou de adeus transformou-se em um abraço cheio de verdade e fogo e seu olhar tornou-se intacto como o tempo, nenhum cataclisma lhe seria capaz de roubar a calma, mas de repente tudo se foi como em uma tempesta de de verão.Rita morreu………</p> </div> </div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-10495363225501859872008-05-08T11:00:00.000-07:002008-05-08T11:01:52.774-07:00Situação de clichê<p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A cabeça dói, as têmporas latejam, a boca está amarga, devo ter bebido além da conta, mas não me lembro. O sol entra pela janela do quarto, bate no meu rosto, me força a fechar os olhos, que ardem. Bocejo demoradamente, faço forças para sair da cama. Vou ao banheiro e me olho no espelho. As lembranças vêem a tona. Eu estava ontem à noite do bar do cassino Nautic`s, bebendo cerveja preta, só me lembro disso, um flash tímido de memória. Depois vim para este hotel. Apartamento 666. Estou esperando Susane. Ela disse que viria. Que horas são? Olho no relógio, 22 horas. Que estranho a data do relógio está adiantada uma semana. Que coisa. Mudo de 24 para 17. devo ter batido o relógio e algum lugar e desregulado o mecanismo. Bem, não importa.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Do apartamento 666 eu vejo apenas a garagem, carros velhos, paredes descascadas pelo tempo. Volto-me para o espelho, faço a barba sem pressa, poucos pelos, dispersos e grossos, um bigode ralo, oriental e desleixado. Penteio o cabelo, visto a roupa, passo perfume e desço as escadas em direção ao bar. Espero por Susane. Já faz alguns meses que não a vejo. Foi meu primeiro amor, coisa do tempo da escola, ainda sinto seu perfume, o toque de seus dedos macios, a rigidez de seus mamilos o gosto de champanha de sua boceta e por ai a fora . Droga, ela está atrasada. O relógio marca quase meia noite. O celular vibra. É Susane, diz que vai se atrasar mais alguns minutos. Talvez uma hora.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> Paciência.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Vou para a sala de jogos. Muitos homens vestindo smokings, fantasiados de pingüins. Boa cena para um conto, imagino. Já vejo o conto se movendo, as palavras chegando, saltando na folha em branco. Eu uso uma velha Olivetti, uma das minhas mais antigas paixões. Mais antiga até mesmo que Susane. Droga, essa mulher que não chega nunca. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Mais paciência.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Um uísque com gelo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Sinto-me também um personagem de um conto, tal como os homens vestidos de pingüins. Bebo devagar. Uma moça se aproxima com um livro. Meu último livro.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Poderia autografar para mim?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ela me pede com um sorriso de derrubar o mais sádico dos carrascos.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- É claro, minha flor.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A moça se vai. Fico com meu uísque com gelo. Onde estará Susane? Se fosse outra mulher qualquer eu não esperaria, mas é Susane. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Meia noite.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Meia noite e meia</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Nada de Susane.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Resolvo jogar pôquer com os pingüins. Compro fichas. Sento-me em uma das cadeiras vazias. Os minutos passam. Tenho um Straight Flush, logo na primeira mão, quem diria.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O pôquer é um jogo do demônio.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Um dos meus personagens disse isso em um dos meus últimos livros, agora repito para os pingüins, mas me ignoram, acho que não leram o meu livro.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Pôquer é um jogo para pingüins. - Digo para mim mesmo.<br /></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Saio da mesa e vou procurar alguma coisa pra fazer enquanto os ponteiros do relógio apostam corrida com o trêm bala.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ei Adam. - Me chama o cara do bar</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Meu nome é Adam, mas não igual ao alter-ego do He-Man, sim como Adam Smith, o economista. Meu pai gostava dele. O admirava profundamente devo confessar, por isso me deu o nome. Meu pai concordava com aquilo que o economista disse sobre o padeiro e o dinheiro e aquela coisa toda sobre lucro e amor. Pois é. Meu pai não era economista, era padeiro mesmo. Vou até o garçom. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Aquela moça deixou isso pra você.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ele me entrega um envelope.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Que moça?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Aquela com o livro.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- A do autógrafo?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Essa mesma.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Abro o envelope, há apenas um bilhete. Poucas palavras.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i>O marido de Susane descobriu tudo. Se quiser saber toda a verdade me encontre na esquina da K com a Ruiz as 3 dessa madrugada. Traga os originais do livro que está escrevendo, você e o livro correm perigo.</i></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i> R.</i></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Quem é R? não entendo nada. Então Susane é casada? Quem diria. E que história é essa de originais, que historia é essa que eu corro perigo? Quem seria a moça do autógrafo? Alguma criminosa? Com aquele sorriso seria impossível, ou não? Uma da madrugada. Falta ainda duas horas pra pensar. Tentar entender o que está havendo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Na sala de jogos os pingüins fumam charutos. Que coisa mais démodé. Tudo é um enorme clichê. Os pingüins, o pôquer, o uísque com gelo, esse parece ser o pior de todos, a não ser talvez o número do quarto, a referência ao perfume de Susane e ao toque de seus dedos e tudo o mais em relação a sua ausente pessoa. Até o meu próprio nome cheira a clichê neste instante. E o fato de ser escritor piora significamente a situação. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Essa é realmente minha vida, ou eu a estarei lendo em algum lugar? E se for assim quem terá escrito obra tão decadente e sem estilo, uma prosa piegas, o lugar comum que sufoca os personagens em clichês gritados de todos os cantos.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O que quer dizer o bilhete? E se não quiser dizer nada? Leio novamente, tem que querer dizer alguma coisa. Ninguém escreveria um bilhete que não quisesse dizer nada, ou escreveria? Uma e meia, acho que o trem bala está perdendo a corrida.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Como escapar de uma situação de clichê como essa? Olho ao redor e não acho resposta para nada.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Saio para a rua. Silêncio. O céu está escuro. Alguns minutos e a chuva desaba. Chuva, mais um clichê clássico. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Um carro pára na calçada. O motorista abre o vidro. Cigarro aceso, me chama.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sr. Adam, O escritor?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sim.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Encomenda para o senhor.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O motorista então me entrega uma caixa, sai cantando pneus, lá vem clichê. Abro a caixa e dentro dela há uma um objeto embrulhado em seda vermelha, seda vermelha, chegamos ao fundo do poço com os clichês. De repente me sinto preso dentro de um conto mórbido, aonde as cenas vão se alternando sem lógica alguma, meramente ao sabor dos mais variados clichês. Enrolado na seda vermelha há uma arma, uma pistola semi-automática e um bilhete.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i>Leve isso junto com os originais. Você vai precisar.</i></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> R.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">R. de novo, quem seria? Que espécie de loucura seria essa? Aonde iriam me levar tantos clichês? Dever ser um sonho. Sim, só pode ser isso. Mas já que estou preso nesse manto de clichês cometo mais uma, acendo um Marlboro com meu isqueiro zippo americano.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Por que o original do livro? É uma história ainda no começo. Apenas a história de um escroque chamado Roberval. Jogador de pôquer, trapaceiro, vive de pequenos golpes, bebedor de uísques, conhaques, vodcas e pingas. Sim, muitas pingas. Pingas brancas, amarelas, das mais diversas cores e mais diversas misturas. Roberval não se veste de pingüim, mas também fuma charuto enquanto joga no pano verde, outro clichê. Ele usa suspensório. Parei na cena em que ele leva um tiro durante uma partida de pôquer em um cassino clandestino e barra pesada.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A placa da esquina marca K com a Ruiz. É bem aqui o lugar do encontro. Vim parar aqui sem querer, coincidência, não pretendia vir de fato a encontro nenhum, compactuar com uma loucura dessa, imerso em um banho gelado dos mais diversos clichês. Mas cá estou, então paciência. Fumo devagar, não poderia ser diferente, já que de alguma maneira inconsciente estou farejando uma trilha de clichês. Três horas. Um carro preto pára ao meu lado. O vidro se abre. A porta se abre. Sai um homem enorme, todo vestido de preto. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O homem me obriga a entrar no carro. Fico sentado entre ele e um outro homem também de preto, só que maior e mais carrancudo. No volante um homem magro e a seu lado, no banco do carona, uma loira de batom vermelho e olhos azuis.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Situação de clichê, não resta mais a menor dúvida.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O que você sabe? </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sobre o que?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sobre ele.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ele quem, meu Deus?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Seu Deus não tem nada a ver com isso. O que você sabe sobre Roberval?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Mas que é esse Roberval?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Você está escrevendo um livro sobre ele.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Onde estão os originais? </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Eu não trouxe.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Vamos buscar.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O magrela ao volante faz o retorno na esquina, chega a subir na calçada, imagino que não podia ser de outra maneira. A chuva aumenta, as gotas enormes socam o teto do carro. Quando chegamos minha casa está toda revirada, as coisas jogadas no chão, os livros, os móveis, as gavetas vasculhadas, louça quebrada, e os originais do livro desaparecerem.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Alguém esteve aqui.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Parece obvio.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Situação de clichê. Parece um pesadelo. Faço força para acordar, mas não adianta, estou preso no sonho, se é que isso é realmente um sonho, um pesadelo, um delírio, já não sei o que pensar. Os homens enormes procuram alguma coisa no meio do caos que varreu minha sala, mas nada pode ser encontrado.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Os originais foram roubados.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Quem teria feito isso?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Roberval, provavelmente.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Mas ele é somente um personagem.- Eu digo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Você não sabe de nada.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Os dois gorilas me arrastam para fora da casa. O magrelo tira do porta-malas do carro dois galões com algo que presumo ser gasolina, no melhor dos clichês dos filmes de gangster, e joga sobre a bagunça da sala, derrama sobre os moveis, molha tudo o que vê pela frente até que os galões ficam completamente secos e o cheiro de gasolina invada tudo, inclusive meus pulmões. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Onde está seu zippo americano.- A loira me pergunta.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não tenho.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Claro que tem. Zippo é um clichê clássico.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O mais forte dos dois brutamontes tira o isqueiro do meu bolso e joga para a loira. Ela tira uma cigarreira dourada de dentro da bolsa. Acende um Free e traga profundamente. Acende a chama do isqueiro mais uma vez e então o atira pela janela aberta. Sou arrastado para dentro do carro enquanto o fogo avança e destrói o meu lar.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- A noite vai ser longa.- Diz a loira ainda fumando lentamente seu Free.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Free é mesmo cigarro de mulher, ou seria apenas mais um dos incontáveis clichês dessa madrugada? </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- E agora como vou fumar sem o meu zippo?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Na verdade eu deveria estar mais interessado em onde e como vou morar, já que minha casa foi incendiada por um bando de malucos em um carro preto, que estão a procura de uma cara que só existe, até que me provem o contrário, dentro do meu ultimo livro, e que pra piorar o tal livro, ainda inacabado foi roubado. Esqueci algum dos clichês e acontecimentos bizarros das últimas horas?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Pare de fumar. Cigarro faz mal pra saúde, nunca te falaram isso? </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Diz o maior dos brutamontes enquanto explode um uma gargalhada que só pode ser comparada a risada de uma criança, uma menina de oito anos, loira e com os cabelos presos com lacinhos, para ser mais exato.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Me fale sobre a história. - Pede a loira.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Que história?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- A história que está escrevendo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- É um faroeste moderno, sabe come é, uísque com gelo, pôquer, charuto, moças loiras, sem alusões as pessoas presentes. - Neste ponto pisco para ela, que faz uma careta que desencoraja a fazer qualquer outra piadinha. - A história é cheia de putas, cafetões, cabarés, cawboys, escroques, como é o caso de Roberval, ele é traído pelos amigos, que não são tão amigos assim pelo que se vê, parceiros de carteado, atiram nele durante uma partida de pôquer.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O que mais?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Por enquanto só. Parei nessa cena da traição.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Mas como termina.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Eu não sei. Vou escrevendo sem premeditação. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ao sabor dos clichês?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Mais ou menos.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Li seu último livro. - Diz o maior dos brutamontes.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Espero que tenha gostado.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Obrigado, admiro os leitores sinceros e sensíveis.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Tem cavalos no seu faroeste moderno? - A loira quer saber.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Motos?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sim.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Estamos chegando. - Diz o magrelo ao volante.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Vocês destruíram minha Olivetti.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ninguém diz nada. Só então me lembro de Susane. O que terá acontecido com ela?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O que aconteceu com Susane?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Está escondia em um lugar seguro.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O que ouve?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Roberval descobriu tudo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O que tem a ver Susane com o personagem do meu livro?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Eles são casados. Susane e Roberval.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Isso é loucura.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Nada disso pode estar acontecendo. Deve ser um pesadelo. Inexplicável situação de clichê.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Quem são vocês, afinal? - Eu quero saber.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Estamos à procura de Roberval.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- E o que eu tenho com isso?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Você é o contato.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Insuportável situação de clichê. Isso só pode ser um sonho, ou um filme velho emperrado dentro da minha memória, uma daqueles clássicos de suspense ainda em preto e branco, não sei. Talvez um filme de Antonioni, mas se fosse não haveria esses clichês. Um clássico qualquer de Kubrick, cheio de situações inusitadas, talvez, mas onde está o estilo marcante do grande cineasta? Não, Kubrick não é. Uma história de Kafka, quem sabe? Não, também não. Tendo por a cabeça em ordem. Como foi que tudo isso começou? Com o telefonema de Susane. Depois o uísque com gelo, não devia ter tomado aquele primeiro clichê. Mas tomei, paciência.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Para onde estão me levando.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Logo vai saber.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Então me lembro da arma. Não me revistaram, a arma ainda está na minha cintura. Sinto, de repente, todo o frio de seu aço contra a minha pele. O bilhete dizia que eu ia precisar. Mas quem teria escrito aquele bilhete. Quem seria R.?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">De repente o carro pára.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Chegamos. - Diz a loira.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Vejo uma casa enorme. Não, não é uma casa, é uma igreja. Uma escadaria enorme. Sou arrastado degraus acima. O maior dos godizilas entra chutando a porta da igreja. Um padre fuma charuto sentado no púlpito, pernas cruzadas, cavanhaque, óculos e mais um ou dois clichês de rotina na vida dos padres, que, aparentemente, são vilões de histórias bizarras, como essa parece ser até agora. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Atrasados. - Diz o padre.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Os originais foram roubados.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Merda! - Diz o padre.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Este é o padre Salvador. - Diz a loira.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Salvador?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sim, posso salva-lo do fogo do inferno, meu filho. - O padre ri.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Fico sem saber o que dizer. Mas o que poderia dizer diante de tamanho clichê?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Fuma charuto?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Os vilões fumam charuto, isso é um clássico.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Meu filho, isso não é um conto de Rubem Fonseca, é a vida real. E na vida real só a um vilão; o tempo. Já deve ter ouvido falar.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sim, já ouvi, isso faz de você um plagiador.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Literatura. Somente literatura nada mais que isso.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O padre gargalha como um bom vilão de filme B. Engasga com a fumaça.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Querem beber alguma coisa?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não temos tempo. - Diz a loira.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O que vão fazer agora?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Falar com o Sr. X.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Neste instante essa situação de clichê atinge um estado crítico, se tudo fosse uma bomba explodiria neste exato momento. Senhor X? Esse é o cúmulo do piegas. Já não é mais clichê, beira ao ridículo. Só pode ser um pesadelo, não há outra explicação. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A loira então beija o padre na boca. Tudo pra mim vai perdendo o sentido, perdendo as cores, os sons. Sinto que vou perder os sentidos. Tudo fica escuro e imóvel. Desmaio.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> * * *</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Acorde Adam.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Alguém bate no meu rosto. É Susane. Acordo e me encontro completamente nu em meio à nave da igreja. O padre Salvador está caído a alguns metros. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O que houve Susane?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não sei direito.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Minhas roupas desapareceram. Caminho até o padre Salvador. Ele está morto em meio a uma poça de sangue. A arma que eu trazia está jogada a alguns metros do corpo. Há uma batina sobre o púlpito. Visto-a. Está frio. Ouço a chuva batendo no teto da igreja. Apanho a arma. Susane está fumando Free, igual a loira.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Situação de clichê. Ou será apenas coincidência?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Por onde você andou?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Fui pega e me obrigaram a ligar para você.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Que diabos está acontecendo?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não sei.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ela caminha em direção a porta.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Aonde vai?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Quero descobrir o que está acontecendo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- E como vai fazer isso?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sei para onde foram.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- E como sabe?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ouvi uma conversa.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Vou com você. Preciso encontrar os meus originais.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Susane entra no carro. Monza preto. Mais um carro preto. Sento-me no banco do carona.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Me dá um cigarro. - Peço.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Free?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não é cigarro de mulher?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Isso é um clichê ordinário, só isso.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sei.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Como veio parar aqui?- Ela pergunta.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Fui agarrado na esquina da K com a Ruiz. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O que aconteceu na igreja?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não sei direito. Desmaiei quando a loira beijou o padre.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Que nojo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Trago o cigarro e também me engasgo com a fumaça.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não viu quem o matou?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- E aquela arma?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Era minha.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sua? Nunca soube que você tinha uma arma.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não tinha. Entregaram-me em uma das esquinas entre o hotel e a K com a Ruiz. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Quem entregou?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Um cara num carro preto.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Muito estranho.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- É, pois é, é uma situação de clichê.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Como assim?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não percebe Susane, nada disso pode ser real. Você é casada?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sim.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Como se chama seu marido?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Roberval, por quê?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Minha cabeça começa a girar, não é possível, nada disso pode estar acontecendo, sinto que vou desmaiar de novo. Vontade de vomitar.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Pára o carro, Susane.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ela freia. Abro a porta a tempo de vomitar na calçada. A cabeça gira, sinto que vou mesmo desmaiar.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Calma Adam, respira devagar.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Não, não pode ser real, é só isso que consigo balbuciar antes de sentir a visão se embaçando e o escuro profundo de aproximando cada vez mais.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não desmaie, Adam.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Silêncio, profundo e gutural.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Acordo com o carro já em movimento. Estou deitado no banco de trás. Há uma moça de cabelos vermelhos, sentada no banco do carona, ao lado de Susane, masca chicletes ruidosamente.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Acordou Cinderela? </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não era a Cinderela que dormia, era a Bela Adormecida.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Bah, tudo igual. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Essa é minha amiga Natacha. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Você é puta? - Pergunto para Natacha.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sim, como sabe?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Deduzi, clichê clássico.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ela não diz nada. Susane não diz nada. Então só me resta dizer alguma coisa.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Quem é o Sr. X? - Pergunto.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ninguém sabe. - Diz Natacha.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Como assim? Alguém tem que saber.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- É um mito, uma lenta, é como um fantasma. Controla o jogo daqui até Manaus, a prostituição, tem cassinos clandestinos, corrida de cavalo, de cachorro, rinha de galos, é uma espécie de Capo italiano.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Meu Deus. - diz Susane.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A mim nada mais surpreende, um clichê a mais um a menos, se ela me dissesse que era Victor Corleone em pessoa, que motivos eu teria para duvidar? Estou, à uma hora dessas, preparado para tudo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Como se encontra ele?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Você não o encontra, ele te encontra.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Eu devia saber. Que inocente eu sou pra fazer esse tipo de pergunta para uma puta de cabelos vermelhos em uma noite absurda, cheia de cenários pitorescos, cheia de diálogos roubados de um gibi do Dick Traice, inundado de clichês tão ordinários quanto solados de um chinelo velho ou de uma novela mexicana cheia de personagens com nomes compostos. Avançamos cada vez mais, ou melhor mergulhamos cada vez mais nesse abismo surreal e mórbido, nos inveredamos ainda mais nessa situação de clichê, que a muito já saiu de qualquer controle.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O que terá os originais do meu livro a ver com tudo isso? Quem é Roberval, afinal? O que todos estes homens de roupas pretas, carros pretos, querem comigo e com meu livro? Quem é R.? </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Pra onde estamos indo?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Calma, já estamos chegando.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Olho no relógio, quase quatro da madrugada e ainda está chovendo muito, as gotas estão enormes, surram o pára-brisa do monza. Sinto os olhos arderem, estou com sono, não deveria ter saído daquele quarto de hotel.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Susane pára o carro, ruas escuras, mulheres seminuas nas esquinas, por todos os cantos, travestis, o cheiro do mar se alastra carro a dentro, invade minhas narinas, a maresia invade meu cérebro e embrulha meu estomago. Desço do carro e vejo um bar aberto, caminho na chuva, preciso comprar cigarro, fumar Free é como não fumar nada, embora fumar nada resolveria alguns problemas de saudade como por exemplo um câncer de pulmão eminente. Compro cigarro, tomo uma dose de vodca. O bar está deserto, apenas eu e o cara que me atende, a TV está ligada, chuviscada, chiando feito uma panela de pressão ou como um lutador de boxe no final do ultimo assalto, não consigo diferenciar, mas consigo entender o que o âncora do telejornal diz.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Âncora-</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> O crime se deu nessa madrugada, por volta das três da madrugada, testemunhas que estavam de passagem pelo local afirmam ter visto um homem vestido de padre, saindo da igreja, acompanhado de uma mulher alta. Ao vivo direito da cena do crime está o nosso Roberto Ernesto Garcia.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A imagem corta para a fachada da igreja para onde eu fui arrastado pelos dois gorilas, pelo magrelo e pela loira, alguns curiosos estão na frente da igreja, uma pequena aglomeração e alguns carros da policia. O repórter enche a tela, bombástico, como todo repórter em cena de crime.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Repórter- </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Estamos ao vivo direto da igreja de Cosme, no Largo do Bloco, onde o padre da paróquia, Salvador Resende e Souza, foi assassinado brutalmente e a queima roupa, com um tiro na nuca. Segundo a polícia trata-se de uma execução ou queima de arquivo. Testemunhas que passavam na área na hora do acontecido, entre 3 e 3 e meia, dizem ter visto um homem vestido de padre, saindo com uma pistola nas mãos, acompanhado de uma mulher alta, os dois deixaram a cena do crime em um monza preto com placa de Santos. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A câmera mostra o padre sendo retirado pela policia em um daqueles sacos pretos e colocado dentro do carro da funerária.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Repórter-</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> Há uma suspeita da policia de que o criminoso em questão se trate do escritor Adam Smith, que parece ter sido reconhecido por uma das testemunhas. Mas o que levaria esse conhecido escritor de nossa literatura a cometer tal crime e quem seria a moça que o acompanhava. Vamos falar com uma das testemunhas. Senhor Astolfo Ribas o que realmente o senhor viu.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Astolfo Ribas-</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> Vi o homem saindo da igreja junto com uma mulher muito gostosa, alta, peituda, desconfio que aquilo seja silicone. Mas o homem eu reconheci, mesmo vestido de padre, era o tal escritor Adam Smith, li um livro dele uma vez e dei uma olhada na foto da contracapa pra nunca mais ler nenhuma das porcarias que ele escreve.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">No momento que dou as costas e saio para a chuva a TV está mostrando uma foto minha. Essa situação de clichê está ficando cada vez pior, agora além de tudo sou suspeito de ter assassinado um padre. Era só o que me faltava acontecer.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">As luzes amarelas e pálidas dos postes denunciam o lugar, estamos no porto. Vejo as dezenas de centenas de conteners espalhados para todos os cantos, de todas as cores, azuis, vermelhos, verdes, amarelos, brancos. Susane está fumando encostada no carro. Natacha está falando com um travesti debaixo de um poste na esquina.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Estou na TV.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Como assim?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Alguém nos viu saindo da igreja. Viram-me com uma arma. E teve um babaca que me reconheceu.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Natacha se aproxima com o travesti, seus cabelos vermelhos escorrem água, a chuva está muito forte, não sei como o cigarro de Susane não se apagou, mistérios do clichê, fumar na chuva é um dos mais mágicos. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Essa é Claudia. Ela conhece tudo por aqui. - Diz a ruiva.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Claudia, eu devia saber.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Quem é o padre?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ainda estou de batina, somente agora me dou conta, a situação é mais ridícula do que eu imaginava. Um clichê a mais ou um a menos já não faz diferença alguma a uma altura dessas da madrugada.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ele não é padre. É uma longa história.- Esclarece Susane.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Claudia está de salto alto, saia de borracha, meias calças, uma coisa, cabelos presos em um rabo de cavalo no alto da cabeça, parece aquele ser do filme Quinto Elemento que gritava <i>Meu homem! </i> Com uma voz de taquara rachada.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Já sei onde fica o armazém. - Natacha diz para Susane.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A partir daí começamos a nos esgueirar por toda extensão das docas, um verdadeiro labirinto de construções faraônicas e tão antigas quanto a própria pirâmide de Queóps, restos de barcos, por um momento me sinto preso dentro da Guernica, aquele quadro de Picasso que é uma bagunça dos infernos, dizem que ele quis representar a batalha de Guernica, importante episódio da guerra civil espanhola, mas no muito representou um acidente de carro na Marginal. Na neblina se vêem tratores, guindastes, alguns bêbados, algumas putas, que cumprimentam, de quando em quando nosso guia, o cheiro do mar vai ficando cada vez mais forte, embrulha cada vez mais o meu estômago.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Claudia de move como um esquilo, é um exercício digno de atleta olímpico segui-la nessa neblina, se embrenha pra e pra cá, parece se tratar de um verdadeiro labirinto úmido e escuro e como a madrugada é de clichê não me espantaria muito dar de cara com o Minotauro.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Chegamos, até que enfim, ao tal armazém. Uma construção enorme, com janelas pequenas e bem altas, de onde vaza raios de uma luz pálida, o prédio é todo feito de tijolos a vista, liquens cobrem a maioria das paredes.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- É aqui. - Diz o travesti. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O cara na TV disse que seus seios são silicone.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Mentira, tudo original de fabrica.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Silêncio. -Sussurra Natacha.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O que estamos fazendo aqui? Que loucura é essa, afina? Onde Susane está com a cabeça, para nos meter em uma situação dessa, sem pé e nem cabeça? Claudia faz sinal para que a sigamos, ela se esgueira ao redor do prédio, até chegar a uma porta mais ao fundo. O cheiro do mar envolve tudo ainda mais e começa a enferrujar meus movimentos e entorpecer ainda mais os meus sentidos. A porta está destrancada, como alias não poderia ser diferente, já que a situação é de clichê. Destrancada como toda boa porta dos fundos de um armazém infectado de vilões de um filme velho da Sessão da Tarde. Quem serão os vilões dessa trama, a espreita dentro desse armazém? O vilão é o grande ícone da literatura pop, desde os romances de épocas remotas à telenovela brasileira exportada para o mundo inteiro, todo mundo quer ver seu fim trágico, querem que o vilão termine preso, morto, louco, que ele pegue fogo e todo o destacamento do Corpo de Bombeiros esteja de férias no Caribe, sei que é um clichê, mas também desejo isso.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Entramos em silêncio, fila indiana, Claudia na frente, atrás dela Susane e logo depois eu. Tudo escuro, centenas de caixas empilhadas, pilhas que vão quase até o teto, mais um labirinto escuro e úmido. Estamos ensopados, minha batina pinga água, deixa um rastro atrás de mim, quase uma enxurrada. Ouvimos vozes vindas além de uma porta fechada. Claudia experimenta a maçaneta e a porta está destrancada. Presto atenção nas vozes. A TV está ligada, espio, um filme em preto e branco, quase azulado invade a tela, jogando uma luz opaca por todo o cenário, onde dois homens estão sentados em cadeiras espreguiçadeiras.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">De repente, lá fora, um ruído metálico, um cantar de pneus e logo em seguida o som de portas de carro sendo fechadas com extrema violência. Os dois homens se levantam de um único salto, sacam suas armas e ficam alertas de frente para uma porta em uma das extremidades do cômodo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A porta se abre e a loira entra, a mesma que fumava Free, o cabelo está molhado, o vestido negro está colado ao corpo, desenhando uma silhueta perfeita, como se fosse um manequim de vitrina de butique de roupas da Prada , logo atrás dela o magrelo entra também segurando uma arma, entram também os dois gorilas arrastando um homem da mesma forma deselegante e truculenta como faziam comigo a mais ou menos uma hora atrás. Os dois homens que assistiam TV abaixam as armas e voltam para suas cadeiras.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O assassinato do padre já saiu na TV. - Diz um deles, já reconfortado em sua espreguiçadeira.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Culparam o escritor.- Emenda o outro.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ótimo, melhor que a encomenda. - Diz a loira.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Amarre-o na cadeira. - Diz o magrelo para os dois King Kong`s.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Eles amarram o homem na cadeira.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- É Roberval! Eles o pegaram. - Cochicha Susane no meu ouvido.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Vamos ficar escondidos aqui? - Pergunta o travesti.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Vamos esperar. - Diz Susane.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Merda de chuva. - Diz a loira vestindo seu Prada molhado.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Por quê mataram Salvador? - Pergunta um dos homens sentado em sua espreguiçadeira.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ele estava muito mal vestido. Um crime de moda. Não merecia viver. Onde já se viu, batina e óculos escuros. Um horror. - Diz a loira.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Todos gargalham menos Roberval, que está amordaçado e amarado na cadeira, parece meio grogue. Ouço passos, um estalido seco e uma insuportável dor na nuca. Tudo escurece.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> * * *</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Acordo. Ainda estou meio tonto. O estomago roda, as têmporas latejam. Um tapa estala com força no meu rosto, isso faz com que eu acabe de despertar. A dor aviva minhas sensações, aguda, visceral e corrosiva. Estou amarrado a uma cadeira, ao meu lado está Roberval e mais para a esquerda o travesti além dele está Susane, ainda desmaiada, amarrada em uma outra cadeira. Os dos homens agora estão de pé, já que suas espreguiçadeiras foram usadas para amarrar Susane e o travesti mais confortavelmente. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Começo a entender o que houve, fomos surpreendidos em nosso esconderijo, o que é um clássico clichê. Mais alguns homens estão ao nosso redor, além de todos aqueles que já se encontravam no armazém. Além dos dois godizilas, os dois que estavam nas espreguiçadeiras, além da loira e do magrelo. Pelo menos mais seis homens a mais.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ainda chove lá fora.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">-Acordou Fernando Pessoa? - Diz a loira, tentando ser sarcástica. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ela não consegue, quando no muito consegue ser desagradável, mas isso não beira aquele sarcasmo piegas que os vilões dos filmes B despejam sob os mocinhos, quando estes estão amarrados em cadeiras espreguiçadeiras e cercados por gangster por todos os cantos em um velho armazém abandonado nas docas. De modo que a loira deve estudar um pouco mais de arte dramática. Ela poderia ter citado qualquer um, então por que logo Fernando Pessoa? Por quê não Loyola ou Sabino? Além de péssima atriz a loira parece não ser dada a grandes leituras.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Batem na porta.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Quem é? </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ouve-se uma tosse cavernosa, seguida de pelos menos uma dúzia de espirros violentos.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Essa tosse e esses espirros. Só pode ser ele. - Diz o magrelo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Um dos gorilas abre a porta. Um homem muitíssimo parecido com um ursinho game entra, acompanho de mais trogloditas. Os trogloditas reunidos nesse armazém, figurantes dessa cena clássica de cinema ruim, juntos já formariam um time de futebol americano. Todos eles vestidos de preto. Se montássemos um time o problema dos uniformes já estaria resolvido. Todos fazem silêncio enquanto o ursinho game entra. Pela cara dele me parece se tratar do Bronquinha. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Aqui está o homem , chefe.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ola Roberval, quanto tempo.- Diz o ursinho game made in China.- Você me fez sair de casa na véspera do natal. Isso é muito grave.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Do que esse homem está falando? Ainda falta uma semana para o natal. Ele deve ter batido a cabeça e desregulado algum mecanismo igual aconteceu com meu relógio. Ou será que o relógio não estava desregulado e hoje é véspera de nata? Não, não é possível. Seria loucura até mesmo para uma situação de clichê, como é o caso em questão. Sendo assim para onde foi a semana que falta entre dia 17 e dia 24? Mas já é mais de meia noite e se fosse o caso já seria natal. Quando bobagem. Com certeza o ursinho game deve estar bêbado.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Daqui a pouco é natal e eu estou aqui.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Situação de clichê cada vez pior. Pior que um conto ruim. Apenas um quadro perdido entre a falta de sutileza do cubismo e anemia do andaluz. Um apanhado de acontecimentos inusitados e confusos. Um filme de ruim de Kubrick, embora não me conste em lugar algum tal coisa.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Onde está o original do livro?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Foi roubado.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O código está desaparecido.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Está inda dentro da cabeça de Roberval.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não está mais. - Diz Roberval.- Quando passei para a cabeça do escritor tive o cuidado de apagar da minha mente.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O que está acontecendo? Que história é essa? Do que estarão falando todos esses malucos? </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Quem roubou o livro?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não sabemos.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Está na cara que foi Roberval.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não roubei nada. Não me serviria de nada, pois o livro ainda não está pronto.- Diz Roberval.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Você está mentindo. - Esbraveja a loira.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Os homens de preto começam a esmurra-lo por todos os lados. Ele continua a negar que esteja com os originais do livro. Não entendo nada do que está acontecendo. Susane ainda está desmaiada. Roberval cospe uma enorme poça de sangue no chão. Sinto que vou desmaiar mais vez, os estomago começa a ficar embrulhado, não suporto ver sangue, e aqui já tem sangue suficiente para fazer um filme de guerra. Todo mundo está louco, que história é essa de colocar coisas na minha memória, apagar coisas da mente de Roberval, que história é essa de originais do meu livro, por que o querem, que história é essa de véspera de natal, afinal hoje é dia 17? Eu faço todas essas perguntas de uma única vez, ao final do ponto de interrogação me sinto completamente sem ar. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A loira ri dentro de seu xerox em preto e branco de um Prada.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não se lembra, não é mesmo? - Ela diz entre guinchos de sua risada esnobe e tão falsificada como seu sarcasmo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Os godizilas param de bater em Roberval, ele ainda sangra, agora, faz companhia para Susane do distante país dos inconscientes. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não sei do que vocês estão falando. O que tem meu livro a ver com tudo isso? Não entendo o que está havendo. Não sei o que estou fazendo aqui, o que tenho haver com tudo isso e com vocês.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Seu livro tem os códigos. - Ela diz.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Códigos do que?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Senhas de contas em bancos suíços.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Pronto. Eu devia estar à espera disso, de modo que não me surpreendo de todo, filme de gangster, assassinato de padre, roubo de livro, códigos, contas na suíça, travesti usando saia de borracha, mulher peituda fumando Free, chuva, carro preto, loira, magrelo, homens de preto, Sr. X, uísque com gelo, pôquer, pistola semi-automática, prostituta ruiva, armazém nas docas, será que esqueci alguma coisa. Receita perfeita para fazer um filme ruim. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Que loucura é essa?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Conte a ele Madalena. - Diz o magrelo</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Madalena? Por que será que eu não me surpreendo com essa também?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ela fica me olhando, parece tentar ler meus pensamentos, se pudesse fazer isso garanto que não continuaria com esse sorriso de vilã de novela do canal 13.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> - Vou contar como você entrou nessa história.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i>A história contada pela mulher loira, Madalena, péssima atriz de sorriso debochado, vestindo sua imitação surrealista de Prada, será por mim narrada em primeira pessoa. Minha pessoa, já que a pessoa dela me parece um tanto canastrona demais para executar um monólogo, como o que vem a seguir. Não que eu queira evidenciar aqui um dos mais celebres clichês, o de que as loiras são intelectualmente afetadas longe de mim cooperar com tal conspiração. Mas vamos direto aos fatos.</i></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Olhei para a TV, a imagem límpida do canal 13 mostrava mais uma dessas tragédias que a mídia converte em comercial para as multinacionais da alimentação. Os repórteres, sempre sujeitos com roupas engomadas e cabelos impecáveis, falando direto do local da tragédia, ou do assalto, ou do terremoto, ou fosse do que fosse, estão sempre lá, perfumados e bem passados. Tirei os olhos do monitor e olhei ao redor, senhoras vestindo longos pretos, sapatos de salto alto, sorrisos de botox, um desfile sem lógica, uma vida sem lógica. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Estou esperando Susane e por um momento me sinto aliviado por saber que ela aparecerá vestindo calças jeans, tênis e camiseta esporte, uma espécie de alienígena aos olhos das outras mulheres. Susane é alta, da minha altura. Lábios vermelhos e grossos, como se houvesse acabado de levar um murro, cabelos claros e longos, seios enormes e firmes. Ela já está atrasada.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ponho-me a folhear o jornal do dia. Caderno 2. Crítica literária. Algumas menções ao meu último livro, recém lançado. A primeira e de um tal de Alicio Carlos, nunca ouvi falar.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i>O livro mais parece uma daquelas bulas de remédio amargo. Não se sabe o que quer dizer, não se entende onde quer chegar. Não serve para nada, a não ser, talvez, para encosto de uma mesa ou geladeira com as pernas tortas.</i></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ele ia adiante com muitas outras palavras que eu não quis saber. Havia mais abaixo uma outra crítica assinada por uma mulher. Fátima de Queiroz. As mulheres geralmente são mais sensíveis a literatura.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i>Adam Smith está cada vez melhor no quesito literatura ruim. Tão ruim quando seu contemporâneo mais celebre. Pelo menos Smith ainda não se denominou Mago, ponto a seu favor e a favor de sua literatura de gosto duvidoso.</i></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Quem disse que as mulheres eram mais sensíveis? Bobagem. O jornal é tão inútil quanto o noticiário do canal 13. bebo cerveja preta. Espero Susane que já está atrasada quase meia hora. Só então reparo no homem ao meu lado no balcão. Está olhando para mim de forma insistente. Aproxima-se.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Por acaso você não é Adam Smith, o escritor?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sim, sou eu mesmo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Está ocupado? </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Espero uma pessoa.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Poderíamos tratar de um assunto que seria de seu interesse. Tomará apenas alguns minutos.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Do que se trata?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Poderia me acompanhar até uma mesa.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> Vou com ele para uma mesa onde já há um homem sentado, está todo vestido de preto. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sou Roberval.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Diz o sujeito que acompanho. Ele apresenta o outro.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Esse é meu sócio Raphael. Temos uma proposta para você.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Já leu as críticas literárias, imagino?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Já. Quem sabe faz, quem não sabe critica. O que querem comigo?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Um livro.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">-Não entendi.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Temos uma história que daria um romance que te transformaria em um best seler.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Por que não escreve o livro você mesmo?</span></p> <p align="justify"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> Raphael está olhando fixamente para mim. Balança o copo de uísque lentamente. A pedra de gelo vai batendo nas bordas do copo. Um estalido mecânico do choque vai entrando por meus ouvidos. Não consigo me concentrar na voz de Roberval, que está falando sobre gangster`s, máfia, prostituição, lavagem de dinheiro, corrida de cavalos, contrabando, falsificação.a única coisa que consigo prestar atenção e no cubo de gelo se movendo dentro do copo. Os olhos ficam pesados. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ouço Raphael estalando os dedos. Roberval está calado, mas já não mais me lembro do que falava.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Temos que ir. Obrigado pela atenção senhor Smith.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Eles se vão. Fico sem entender nada, ainda ouço lá no fundo da memória o tic tac do gelo batendo no copo. Volto para o balcão. O canal 13 exibe mais uma tragédia. Tomo o resto de minha cerveja preta. O barman desliga a TV, liga o rádio, <i>All the Way</i> de Frank Sinatra invade o bar, a voz cristalina me faz esquecer o ruído do gelo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Susane está atrasada. Olho no relógio. Meia noite. O tempo passou rápido demais. Definitivamente é tarde demais para Susane vir ao meu encontro. Acabo a cerveja e saio. No meu quarto, deitado na cama de casal eu ouvia o tic tac do relógio sobre o criado mudo, tinha alguma coisa querendo sair da minha memória e não sabia como. O tic tac, se parecia com alguma coisa, mas eu não me lembrava com o que. Lembrava-me apenas de um homem chamado Roberval. Bom nome para um personagem. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Foi ai que tive a idéia para um romance. A historia de Roberval, um escroque, que vivia de pequenos golpes com cartas e dados em cassinos clandestinos e barra pesada.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> * * *</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A história da loira é confusa, mas ela explica tudo direitinho. Eu fui hipnotizado por Raphael, enquanto Roberval me fornecia informações para que eu escrevesse um romance. Mas ainda há algumas coisas que não fazem sentido nessa bizarra situação de clichê. Por que queriam que eu escrevesse um livro?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Isso que não entendíamos no começo. Mas depois tudo começou a fazer sentido. Que ligação haveria entra o livro e Roberval?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Pergunta a loira para si mesma, em um clássico momento de sua atuação provinciana, soltando a fumaça do Free para o alto. A chuva está cada vez mais forte. Susane já está acordada, embora ainda atordoada. Seus olhos vagueiam pelo cenário. Os trogloditas estão todos parados como peças de xadrez que esperam um movimento, uma participação na abertura ou no gambito. Roberval ainda está desmaiado, Claudia tem os olhos atentos a tudo o que se passa. Somente então percebo que a prostituta de saia de borracha não está em canto algum.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Roberval roubou códigos de acesso a contas no exterior. O objetivo dele era que você inserisse tais códigos em capítulos do livro. De modo que depois era mais seguro. Depois que passou as informações para você Raphael, por meio de hipnose fez com que o próprio Roberval esquece de tudo. Acreditava ele,que assim se manteria seguro.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- E o que foi que deu errado? - Pergunto para a loira.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- A mulher dele descobriu tudo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- E quem é ela.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Susane.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Estava demorando muito para que tudo ficasse de cabeça para baixo mais uma vez.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Na verdade foi Susane quem teve toda a idéia. Foi ela quem o atraiu para o Cassino Nautic`s, para um encontro em que não compareceu.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">De repente as coisas começam a fazer sentido para mim. A sucessão de encontros e desencontros. E todo o resto de fatos insólitos. Com exceção de alguns mais absurdos. Mas isso é uma questão de clichê, por isso é preciso dar um desconto. É como uma daquelas comedias de besteirol americano, onde um diretor já de saco cheio do mundo, da vida e, provavelmente, com a cara cheia de algum uísque falsificado resolve satirizar dúzias de filmes que nem ao menos assistiu, e o resultado é isso. É essa noite. É essa minha história com a máfia do jogo, ou da prostituição, já nem sei direito o que é o tal de Sr, X, além é claro de um celebre personagem de desenho animado antigo, ursinho game.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Eu era o cara errado no cenário errado, com a maquilagem errada, com o script errado, falando as falas erradas. Triste sina para um escritor, já medíocre, segundo a critica literária mais recente. Bem, eu estava lá, havia um maluco saído de um filme do James Bond, com uma maldita senha secreta de uma conta nas ilhas Caimãs ou na Suíça, à uma hora dessas, esse é apenas um detalhe geográfico sem muita importância. E quis o destino, ou o tremendo azar que devo ter, não é possível, que eu estivesse tendo um caso com a mulher do tal sujeito e essa por sua vez, com uma mente cheia de historias da Agatha Christie concebesse uma trama miraculosa envolvendo hipnose e o escambal. Eu estava surpreso. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A loira parecia se deliciar com minha reação, lambia os beiços entre uma tragada e outra. Eu estava tentando digerir toda a história. Afinal onde haveria ido parar o livro? Por quê a morte do padre? Por que logo nesse armazém úmido e fedorento? Uma pergunta de cada vez. A loira coloca um chiclete na boca e masca da mesma maneira que a prostituta fazia. Onde estará a prostituta? Quem é R.? quem era a moça do autografo? Outra pergunta. Céus, quantas.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Penso sobre o que a crítica acharia desse livro que mal acabei de escrever e já foi roubado. Onde estaria os originais da história de Roberval? Incrível essa história de escrever sob efeito de um transe hipnótico, sempre fui um cético a respeito dessas coisas. No entanto, lá estava eu acordando de uma noite mal dormida, cheio de idéias, uma história de gangster e máfia que depois de tudo foi ao poucos de tornando real, ou ao menos parecido, embora com mais clichês do que eu houvera escrito, pelo menos imagino eu, embora nesse momento tenha a certeza de que a crítica literária daqui até a Patagônia discorda disso. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Durante alguns segundos um silêncio tão profundo que chegava a ser incômodo, ninguém dizia nada, a risada da loira parecia ter morrido dentro de sua garganta, somente as respirações, e o ursinho game bufando feito uma panela de pressão cozendo alguma daquelas iguarias da cozinha afro-brasileira. Quando os sons vieram, foram todos de uma única vez, passos, tiros e sirenes da policia. Correria para todos os cantos, tiros, senti uma dor incrível na perna e depois no ombro. Senti que tudo iria escurecer mais uma vez, eu estava sangrando. As vozes ficavam cada vez mais distantes a sirena cada vez mais fraca, quase que somente um zumbido.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> * * *</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Acordei com Susane acariciando meus cabelos, tive a impressão de ouvir o som das pedrinhas de gelo batendo nas bordas do copo, mas eram apenas os sons dos aparelhos hospitalares. Eu havia levado dois tiros, um no ombro e outro na perna direita. Desmaiara quando a policia chegava e invadia o armazém. Eu ainda não entendia muita coisa. O que Susane vazia ali, se fora ela quem arquitetara todo o plano? Eu ainda estava com muito sono. Sedativos, com certeza. Susane então me contou todo o resto da história dada depois de meu desfalecimento.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Quando a policia chegou nas docas, levada por Natacha, que de alguma maneira havia conseguido fugir antes de sermos capturados pelos asseclas do Sr. X, o tiroteio começara eu baleado em dois pontos do corpo havia desmaiado em meio ao caos. Sr. X conseguiu fugir, mas a loira e o magrela foram presos, junto com Roberval.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Roberval contou toda a história dos códigos secretos, que eram senhas de contas no exterior, que eu havia colocado nas iniciais dos capítulos do livro, sobre a as aventuras do escroque Roberval. Mas muitas das coisas acontecidas na madrugada não tinham explicações, os clichês que impregnaram o cenário já piegas dos acontecimentos, acredito que tenha sido mais acaso do que obra de um roteirista de Hollywood. A morte do padre foi esclarecida e as suspeitas sobre minha pessoa afastadas, mas é claro que terei que comparecer a delegacia para prestar declarações.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O médico entra no quarto, sorriso do tamanho de um tênis de jogador da NBA, estetoscópio pendurado sobre o jaleco branco. Diz que estou pronto para sair do hospital, numa cadeira de rodas é claro, por causa da perna de onde foi retirada um projétil calibre 45. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Susane vai empurrando a cadeira. Na recepção há um embrulho somos parados por uma enfermeira uniformizada.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Deixaram esse embrulho para o senhor. - Ela diz.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Obrigado. - Digo pegando o embrulho que ela me estende.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Susane me empurra para a rua. Antes de entrarmos no carro resolvo abrir o embrulho.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Um pacote branco com apenas algumas palavras escritas em tinta dourada e letra redonda.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i>Aos cuidados de Adam Smith.</i></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i> R.</i></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Dentro do envelope os originais do romance e uma carta. Pus-me a lê-la.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i>Caro Sr. Adam Smith, depois de muito refletir sobre o ocorrido na semana passada no bar do Cassino Nautc`s, em cena que fomos protagonistas maiores, cheguei a conclusão de que o hipnose não pode ser usado de forma ilícita. Por isso me interpus no desfechos dos acontecimentos dessa última noite. Primeiro quis evitar que os originais caíssem nas mãos do Sr. X ou de Roberval, para isso pedi para que a moça do autografo deixasse um bilhete para o senhor, mas tive imprevistos, que agora não vem ao caso, e não pude comparecer ao encontro na K com a Ruiz. Vi-me então obrigado a invadir sua residência e roubar o livro para que não caísse em mãos erradas. Peço desculpas pelos transtornos causados.</i></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i> </i></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i> Atenciosamente Raphael. </i></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Susane empurra a cadeira de rodas através do corredor, atravessamos uma enorme porta dupla toda em vidro e um saguão enorme se abre a minha frente, cheio de acentos de acrílico e pessoas com expressões cansadas. Sinto uma enorme vontade de fuma. Susane me estende um Free, mas dessa vez sei que não é apenas um clichê de algum roteirista de Hollywood, simplesmente é o cigarro que ela fuma e pronto. Sinto uma enorme falta de meu zippo americano. Para onde irei já que minha casa foi totalmente destruída em meio aos acontecimentos dessa última madrugada?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Susane abre o enorme guarda chuva, algumas gotas ainda caem no papel e varias outras se chocam contra o meu rosto. Parece que essa chuva ainda vai demorar a parar.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i> </i></span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"><i> </i> Odair J. Alves.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Junqueirópolis, janeiro de 2008</span></p>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-10205971558064334452008-05-08T10:57:00.000-07:002008-05-08T11:00:03.089-07:00O causo da barata<div style="text-align: justify;">Dizia que era escritor, mas era antes de tudo um ecologista, um inato paladino defensor dos insetos, algo muito raro nesse nosso mundo tão cheio de fumaça e inseticidas.<br /> Acordou naquela manhã já atrasado, mas nunca deixaria de tomar seu banho, apesar de escritor era muito atento a higiene e nao concordava com aqueles filmes que mostram os escritores como sujeitos psicodelicos, desatentos e que não se importam com a aprencia e bebem e fumam e tem manias estranhas, correu rumo ao banheiro deslocando sua mãe que já ia entrando para fazer alguma necessidade que ele até hoje prefere ignorar.<br /> Pronto, agora o banheiro era todo seu, seu oasis e seu abrigo, pos se a tomar seu banho enquanto desafinadamente assoviava a S<em>audade de Matão.</em><br /> Quando pegou a toaha notou nela a presença de uma vistosa e gorada, e por que tambem não dizer, simpatica, ortoptera da familia dos blatidios, tambem conhecida como barata, lhe encarando com as antenas de pé.<br /> Ele balançou a toalha e a tal parente dos blatidios caiu no Atlantico poluido que lhe sobrara do banho, mas obedecendo rigorosamente a prmeira lei de Morphe, caiu com a manteiga para baixo, ou melhor com as perninhas para cima.<br /> A naufraga ortoptera se debatia tentando se virar para uma posição mais comoda e menos ridicula, sem obter sucesso. Entao ele resolveu interfirir em favor do inseto e procurando algo para desvira-la encontrou um sabonete já gasto pela rotina de tantos banhos.<br /> E fazendo uso de tão escorregadio objeto de salvamento tentou fazer dele uma alavanca, mas era liso demais, tentou por outro lado, por outro e outro e tentou de varias outras formas e só depois de quase dois minutos e quando já suava conseguiu salva-la.<br /> A barata, sem a menor cerimonia ou gesto algum de agradecimento, foi se mandando meio tonta ainda e escalou a parede. Ele sentiu-se na obrigação de revelar ao inseto o perigo iminente que corria.<br /> -Agora que está a salvo dê o fora, pois minha mãe detesta baratas.<br /> Enrolou-se entao na toalha e saindo do banheiro deu de cara com sua mãe que ainda estava ali com uma cara de quem havia sido descaradamente boicotada.<br /> Quando entrou no quarto ouviu:<br /> -Uma barata!<br /> E em seguida o chinelo estalando na parede.</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-19276785579323551682008-05-08T10:52:00.000-07:002008-05-08T10:53:41.741-07:00<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://bp0.blogger.com/_VVdECbAZ1wk/SCM-A3oIMoI/AAAAAAAAAAc/SY3i3uAKceo/s1600-h/ATcAAADwKfiTUKJnL4WuWKh66BvlZqHn0Nakq0LdGNpAMUlzmlpM1Rj0fBxWcmd0_ywKN0Id7b3aDPNkRTUMNpotZMTWAJtU9VDdiywWU-RRAGav9eLGG0bKH2qVnQ.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="http://bp0.blogger.com/_VVdECbAZ1wk/SCM-A3oIMoI/AAAAAAAAAAc/SY3i3uAKceo/s320/ATcAAADwKfiTUKJnL4WuWKh66BvlZqHn0Nakq0LdGNpAMUlzmlpM1Rj0fBxWcmd0_ywKN0Id7b3aDPNkRTUMNpotZMTWAJtU9VDdiywWU-RRAGav9eLGG0bKH2qVnQ.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5198066579568865922" border="0" /></a> ODAIR J. ALVESUnknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-46357387709209988782008-05-08T09:37:00.000-07:002008-05-08T09:38:06.700-07:00Crônica em alemão<div style="text-align: justify;">Ob nicht natur zuletzt sich doch ergrund? Antes que os mais afoitos me mandem calar a boca, é preciso esclarecer que também não morro de amores por Goethe, sua obra me cansa, no entanto não deixa de me encantar. O alemão não é uma das línguas que falo, alias, não falo língua alguma além da nativa, que nem nativa é já que é herança do colonizador. Sei, entendo essa vontade de me mandar para o inferno com Goethe ou sem ele. Mas hão de convir comigo que o alemão é uma língua usada por aqueles que adoram complicar coisas simples, como é alias, na maioria das vezes, o meu caso. Sendo assim preciso aprender alemão. Comecei essa crônica, sim pasmem isso é uma crônica, com uma idéia vaga que já não me recordo, era um pensamento todo em alemão e como já sabem não fala palavra alguma em tal língua, sendo assim, a crônica está perdida. Será? Já disseram que só é possível filosofar em alemão, no entanto não estou filosofando estou escrevendo uma crônica, isso me dá outros recursos. Por que terei começado citando Goethe? Como assim, quem é Goethe? Não me diga que nunca ouviu falar. Ah, também não fala alemão. Coincidência. Ora como não é coincidência? Ah, sim, ignorância? Não é bem assim. Vejamos por um outro lado, acredito eu, e essa crença faz de mim um dos últimos otimistas do mundo, creio que tudo pode ser visto por outro lado. Se não acreditasse não poderia fazer uma crônica começada com Goethe? Ou poderia? A crônica é um exercício difícil, não tão difícil quanto fazer duas mil flexões ou duas mil abdominais, mas mesmo assim é difícil, fico suado, as costas doem, os olhos ardem. Culpa da cadeira desconfortável e do computador antigo, diriam os fatalistas, mas não digo isso, afinal sou um otimista, e nestas horas me alegro por isso. Onde eu estava mesmo? Sim, Goethe. Pois é menino. Ele foi um escritor alemão, por isso falava alemão. É preciso deixar claro isso, já que é informação de muita relevância para esta crônica. Tenho pensado em Goethe nos últimos dias, antes de dormir, antes de comer, tenho imaginado seus personagens ao meu redor. Ainda bem que é Goethe e não Balzac, senão eu não conseguiria me mover com tantos personagens. Mas tenho pensado em Fausto, às vezes em Werther, e eles tem me tirado o sono, não entendo o que querem me dizer, haja visto que não falo alemão. Mas eles insistem em sussurrar palavras guturais aos meus ouvidos através das capas dos livros que não acabei de ler. Não consegui ler Goethe, e isso não é o fim do mundo, não conheço ninguém que tenha conseguido, coincidência ou não, não conheço, também, ninguém que fale alemão. Chegamos a conclusão obvia, o grande vilão dessa crônica e o tal do alemão. Antes que os mais desavisados se assustem devo esclarecer, que o dito cujo em questão não é aquele fortão do Big Brother Brasil, isso mesmo não é aquele cara que ficou milionário fazendo caras e bocas. Sim o alemão, língua falada na Alemanha principalmente, terra de Goethe. Goethe é culpado, diriam, seja qual for a acusação. Culpado do mal do século? Não digo que sim, mas também não digo que não, prefiro deixar essa responsabilidade para alguém mais gabaritado, que pelo menos fale alemão, mesmo que apenas algumas frases. Mas o alemão tem outras formas mais inteligíveis, por exemplo a musica alemã, você não precisa falar alemão para poder gostar de Wagner, ou Beethoven, ou Chopin, e por ai afora, a musica alemã fala uma língua universal, que graças a Deus não é o alemão, senão a musica seria cacofonica nos meus ouvidos, a linguagem d beleza, da harmonia, da perfeita combinação de ressonâncias e nada em alemão, o que é o melhor. Mas o leitor deve estar perguntando onde que entra Goethe em toda essa história. Bem, ele não entra, ele já se foi, morreu, virou pó, o tempo devorou, o que restou foi sua obra, que felizmente já foi traduzida, por que Goethe já e difícil de se ler, imagina então em Alemão.</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-4366806509580611292008-05-08T09:35:00.000-07:002008-05-08T09:37:05.906-07:00Lembranças do homem sem nome<div class="entry"> <div style="text-align: justify;"> </div> <div class="snap_preview"><p style="text-align: justify;">Ele não era chamado pelo nome, não havia como, não tinha nome, nem número de identidade, nem coisa alguma que não fosse a si mesmo. Os bacharéis em direito bem poderiam dizer que ele não era uma pessoa, nem física e nem jurídica, mas não diziam, simplesmente não havia o que dizer. Ele também não dizia nada, não havia o que dizer, não havia perguntas, então o silêncio era a resposta mais sábia, talvez a única, mas não havia como saber, ninguém queria saber, ninguém precisava saber, a ignorância era uma benção, pensavam, ele também pensava.<br />O sujeito tinha, no entanto, lembranças dos momentos em que não foi lembrado. Do momento em que se sentou, no ônibus lotado, ao lado da moça de cabelos presos, óculos, ar de intelectual, perfume de jasmim, ela tinha nome, um nome que ele já não se lembra. Um nome que já não lembram. Do que servem os nomes se as pessoas simplesmente os esquecem uma hora ou outra. Ele não tinha nome, não lhe fazia falta. A moça de óculos nunca tomou conhecimento de sua presença, nunca perguntou seu nome, e se perguntasse não haveria resposta, o silêncio era uma virtude, um companheiro fiel, imaginava.<br />Lembrava dos sacolejos do ônibus enquanto respirava o cheiro de jasmim da moça, jasmim é um nome bonito para uma flor, mas também para uma mulher, talvez a moça se chamasse Jasmim, talvez não, um nome é somente um nome, substantivo próprio, havia aprendido na escola, havia respondido corretamente na prova de gramática, pra que? Do que servia essa informação, se ele não tinha nome. Não queria ter. Pra que? Todos têm nomes, diziam, ele se cansou de ouvir. Foi então que resolveu ir embora, pegou o ônibus, se sentou ao lado da moça que tinhas ares intelectualizados<br />Pela janela via a paisagem, as deformações do mundo ao redor, do mundo que vivia independente dele e da moça ao lado, mas seu perfume era algo cruel, algo que o chamava para a realidade, ou irrealidade de sua anônima situação. Vivia em um mundo onde até mesmo um cesto de lixo estava vomitando substantivos e ele não tinha um único pra chamar de seu, às vezes pensava nisso como uma maldição, noutras vezes era um dom, vivia às margens de um mundo desigual e não era igual aos desiguais, isso não era um paradoxo, pelo menos não dentro dele, não era uma questão sofistica, não era nem ao menos material suficiente para o refrão de um bolero piegas, era um fato, um artefato, não sabia, ninguém sabia, não queriam saber. A moça ao lado não queria saber, pelo menos não precisava saber, tudo estava suspenso, mas a queda era inevitável, tudo culpa daquele cheiro de jasmim que exala dela.<br />Se não fosse pelo perfume, não haveria tal questionamento, não faria tanta diferença, talvez diferença alguma, mas havia o cheiro da moça de quem não queria saber o nome, mas talvez tivesse um nome bonito, nome de flor, essa possibilidade o incomodava. Não gostava de se sentir assim, dava-lhe gana de sair correndo, mas dentro do ônibus não havia como, se pelos menos estivesse dentro de um trem poderia pensar no caso, conforme fosse. Poderia perguntar a moça que perfume era aquele, talvez ela respondesse em um monossílabo tônico e intelectualizado, algum verbete desconhecido para ele e sua ignorância sem substantivos e predicados, quem dera soubesse pronomes pomposos para se dirigir a tão perfumada figura, cognatos perfeitos, não, desconhecia todos, talvez ela não se resignasse a responder tão estúpida pergunta, e apenas lançasse um olhar de desdém em direção a sua figura quixotesca e anônima, ele não sabia, não queria saber, estava convencido de que isso não tinha a menor importância. Será?<br />Sua convicção nesse momento era feita de cartas sobre postas em um castelo feito com um baralho já gasto, não sabia se poderia se erguer mais alguns andares. O perfume era um furacão soprando seu castelo de cartas. Ele se manteve firme e não mais deu importância a tal odor. Era sua única lembrança daquela viagem. Ao não ser pelo nome da moça, que descobriu na chega a rodoviária, quando um rapaz de óculos correu em sua direção para abraça-la.<br />- Rosa , meu amor, quantas saudade!<br />Sim, a moça de fato tinha nome de flor, ele ficou a vendo partir, ficou sentido seu perfume se repartindo em outros tantos odores da rodoviária e então tudo sumiu e o que restou foi uma lembrança. No momento se perguntou se um dia ainda sentiria seu perfume outra vez, não sabia, não sabiam, ninguém queria saber.</p> <div style="text-align: justify;"> </div> <p style="text-align: justify;">Junqueirópolis, 17, março de 2008.</p> </div> </div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4783042982058895271.post-26088055518286384712008-05-08T09:34:00.000-07:002008-05-08T09:35:33.491-07:00Labirintos de Rita<div class="entry"> <div class="snap_preview"><p><span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Há quem me pergunte de onde vem essa fixação por Rita. Uma mulher sem rosto. Mas que coxas ela tem, meu Deus. Pelo menos dentro da minha imaginação ela tem os olhos mais doces do mundo, e o melhor de todos os beijos. Amo Rita desde sempre. Desde antes. Ela foi prefácio de si mesma. De óculos, cabelos loiros ou sem óculos e pele negra. Rita é tão contraditória dentro de mim.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Eu a conheci, a vi pela primeira vez, em um baile de máscaras. E até hoje eu desconheço seu rosto. Tenho ficção por seu nome. A vejo nua, pernas grossas, lábios tenros, sorriso maroto. Tenho sonhado com ela nestas últimas noites. No sonho Rita está sempre correndo. Hora em minha direção, hora para longe de mim. Para onde ela corre? Para que tantos passos?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Uma vez eu a encontrei na biblioteca. O rosto escondido por detrás do livro. Mais uma vez fiquei sem conhecer seu rosto. Mais uma vez vi apenas suas pernas. Longas. Cruzadas sob a mesa. Rita tem sido apenas pernas. Pernas sob a mesa. Pernas a correr para lá e para cá.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Como será, de fato, o sorriso de Rita? Maroto, como em minha imaginação? Escondido por um parelho ortodôntico? Tenho imaginado varias situações. Ela sempre está com o rosto escondido. Como amar uma mulher sem rosto? Será o bastante amar somente suas pernas? Acho que não, mas por Rita vale a pena tentar. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ela lê, cabeça baixa. Os cabelos longos caem-lhe no rosto. Está imóvel. Somente seus lábios se movem. Vejo suas pernas cruzadas sob a mesa.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Uma vez, pensando em Rita, escrevi um soneto. Mas era um soneto sem rosto. Somente pernas. 14 pernas. Uma perna para cada verso. Um verso para cada vez que deixei de ver seu rosto. Ainda me lembro do soneto.</span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;"> Rita, linda mulher sem rosto,<br />Vejo-te cálida, feroz e crua,<br />Desejo-te plácida e nua.<br />Rita, não imagina como gosto</span></span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;">De imaginar-te a face,<br />Por todas estas noites vazias,<br />E por tantos e tantos dias<br />Anseio-te ver sem o disfarce</span></span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;">Que em mim te cobre a tez.<br />Estou cansado de ver-te apenas<br />A beleza ondulante das pernas</span></span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;">Que majestosa cruzas sob a mesa,<br />Queria Rita ter a certeza<br />De teu rosto, ao menos uma vez</span></span></p> <p align="justify"> </p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Rita mesmo no soneto é uma mulher sem rosto. Apenas pernas, busto, quadril, cabelos caindo sobre as faces. A máscara eterna. O eterno baile de máscaras. Por quê Rita faz isso? O que ela quer? O que eu quero dela? Quero ver seu rosto, nada mais.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Em um dos meus últimos delírios de amor me vejo próximo de Rita. Aproximo-me devagar. Pé ante pé. Sussurro no seu ouvido.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Me mostre seu rosto, Rita.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não posso.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Por quê fazes isso comigo, Rita?</span></p> <p><span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> - Não tenho rosto, apenas pernas.</span></p> <p align="justify"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> O cheiro dela é inexplicavelmente brando. Anestesia a aspereza de suas palavras. Ela é apenas pernas. Pernas para fugirem de mim. Ela no transito, agora eu sigo, pára no sinal vermelho. Olha-se no espelho, passa batom, está, está de costas. O sinal abre. Rita some. Mistura-se a outras pessoas. Desce do carro e mistura suas pernas a tantas outras pernas. Rita some na multidão. Somente pernas e nenhum rosto.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Agora ela está escondida por detrás de um livro. Vejo seus ombros e seus seios. Céus, que descoberta. Rita também tem seios! Seios que sobem e descem. Seios e pernas, onde estará o rosto? Noutra ilusão Rita está lendo quando me aproximo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Que livro está lendo, Rita?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- A mulher sem rosto.- Ela diz, sem me mostrar o rosto. Mostra-me apenas os seios e as pernas.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Aos poucos vou descobrindo Rita. Assim como quem monta um quebra cabeças. Primeiro as pernas. Depois os seios e os ombros. Rita é como um jogo de montar, me parece. Descubro-lhe os braços, a barriga, espio por debaixo da mesa e tento lhe descobrir detalhes nas coxas. Ela cruza e descruza as pernas. Distraio-me um pouco e Rita já se foi. Levou seu rosto para longe de mim. Mais uma descoberta, a ausência de Rita.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Em um de meus últimos sonhos nós jogamos pôquer. Rita tem as cartas à frente do rosto. Escondido mais uma vez. Quando vai se livrar da máscara de cartas, jogando-as na mesa, eu acordo sem tempo de ver-lhe o rosto. Frustrado me olho no espelho. E estranhamente não vejo meu próprio rosto. Tudo é apenas uma massa disforme. Feito a batata de uma perna magra. Onde está meu rosto? Meus olhos? Minha boca? Meu nariz? Não tenho olhos, mas vejo mesmo assim. Não tenho ouvidos, ou boca,. Ou nariz. Quero gritar de horror, mas onde está a boca? Sinto duas mãos a massagearem meu rosto. Viro-me e lá está Rita, também sem rosto. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Acordo desesperado. Percebo que tudo era um sonho.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Tenho imaginado Rita em varias situações. Outro dia tive a impressão, na praia, de ver a escondida através te um enorme guarda sol. Reconheceria aquelas as pernas em qualquer lugar. Nem mesmo o sol ofuscando tudo é capaz de esconder suas pernas à sanha de meu olhar apaixonado. No instante em que me levanto, disposto a caminhar até Rita, o inevitável acontece. Um daqueles vendedores ambulantes, que insistem em encher as areias das praias de mais confusão e produtos falsificados, cruza minha frente com seu varal cheio de cangas, óculos, toalhas. E quando se vai Rita também já se foi, nem mesmo guarda sol ou pernas, nada restou, apenas a marca arredondada do bumbum na areia. Eis aqui mais uma mágica descoberta; Rita também tem bunda. E pelo <i>fóssil</i> esculpido na areia, deve ser uma bunda das mais belas. Redonda, feito bunda de chacrete, bunda de dançarina de programa de auditório do canal 13.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A fome de Rita aumenta dentro de mim, fome de seu rosto, fome do resto de seu corpo. Rita se foi e sobrou apenas sol a corroer minha pele já avermelhada. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Noutras ocasiões imagino-a feito uma atleta de esgrima, luta com aquela máscara no rosto, golpes precisos, duela comigo, numa luta de vida ou de morte. O cenário é pitoresco e romântico ao mesmo tempo, flores por todos os cantos, os golpes de Rita são precisos, mas ela toma cuidado para não machucar as flores, seu florete corta o ar, venta perto de meus ouvidos, ela não luta, percebo, ela dança uma coreografia mágica, lúcida, espontânea, não há pragmatismo em seus movimentos, sim uma dose de <i>batet d`acion</i>, movimentos perfeitos empunhando a esgrima que silva em minha direção. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Sonho com Rita mais uma vez, correndo novamente. Dessa vez ela é uma atleta. Maratonista, não posso ver seu rosto, ela está muitos metros na minha frente, atravessa a linha de chegada e é abraçada pela assistência e levada, some. Deixa-me sozinho e sem o calor do seu rosto, que deve estar afogueado pelo esforço da corrida.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Noutra noite após um desses miraculosos sonhos me vi de novo com a caneta em punho a fazer um soneto para ela.</span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;"> Rita de mil rostos desconhecidos<br />De mil momentos desperdiçados<br />Por mim na eterna, e adiada, ânsia,<br />De ver-te o rosto. Mas a distância</span></span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;">Que mantém de mim é tão cruel<br />Que agora, prostrado sobre o papel,<br />Tento enxergar a além da máscara<br />Em que tua face reclusa se ampara,</span></span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;">Mas nada vejo além do imenso<br />Vazio que me circunda a vista<br />Ao esconderes-se sem compaixão,</span></span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;">E então eu me tranco na solidão<br />De tua ausência e, louco, penso<br />Que é apenas uma sombra, Rita.</span></span></p> <p align="justify"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Leio o soneto e Rita se materializa na frente dos meus olhos. Agora estamos em uma sala que me parece se tratar de uma sala de psicólogo. Estou deitado no divã e sinto o cheiro de Rita se espalhando por tudo, desde os quadros na parede, as almofadas, nos objetos de decoração. Ouço sua voz.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O que está havendo com você, Arnold?- Ela pergunta.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Meu nome não é Arnold, mas isso é apenas um detalhe. Rita não tem obrigação de saber meu nome, talvez nem mesmo conheça o meu rosto.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Estou ficando maluco, doutora Rita.- Respondo a ela.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Por que acha isso, Alfredo?- Ela pergunta.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Meu nome também não é Alfredo, mas isso é apenas mais um outro detalhe sem a menor importância perante o fato que realmente importa. Tenho vontade de dizer que o motivo é ela, a ausência de seu rosto, mas me calo e ela simplesmente desaparece como que em passe de mágica. É como se simplesmente saísse voando pela janela aberta.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">De madrugada em meu apartamento, levanto com a impressão de ouvir passos pela sala, pelos corredores, a princípio fico meio assustado. Pode ser ladrão. Mas como? Eu moro décimo oitavo andar, só se o ladrão entrou pela janela, a menos que seja o super homem ou o homem aranha, eu devo estar enganado. Levando-me ainda meio sonado, acendo as luzes, a claridade machuca os olhos. Na cozinha me deparo com o espetáculo inusitado. A geladeira está aberta. Rita está mexendo, tem a cabeça dentro da geladeira, apenas o resto do corpo aparece na penumbra causada pela pouca luz que vaza da geladeira aberta. O que ela busca de madrugada na minha geladeira? Eu a chamo pelo nome:</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Rita?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Quando ela tira a cabeça de dentro da geladeira vejo uma enorme pedra de gelo envolvendo seu rosto. Um soverte enorme, sorvete de Rita. Caminho em sua direção e ponho-me a lamber o sorvete, na esperança de que ao terminar possa me deparar com o seu rosto.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">As situações em que imagino Rita tem se tornado cada vez mais inusitadas, como essa do sorvete. Mas nem tudo são espinhos nessas alucinações. Tem o cheiro dela, que é sempre o mesmo, adocicado e suave. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Nesse último mês sempre que me levanto com a impressão de que Rita está por perto, escrevo um soneto para ela.por exemplo, um soneto para os ombros, um soneto para os seios, um soneto para o busto, sempre quatorze versos, mas não fui capaz ainda de escrever um soneto para seu rosto.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A pilha de sonetos de avoluma, dúzias e mais dúzias, já dariam um livro. Se eu fosse poeta publicaria um livro de sonetos, tenho imaginado os títulos possíveis; <i>A procura do rosto de Rita. Onde está o rosto de Rita? Sonetos ao rosto ausente de Rita. A musa sem rosto. Invisível Rita. </i>Títulos não me faltam, e sonetos também não. Mas não sou poeta, sou apenas funcionário publico. Tenho trabalho a fazer, a papelada se empilha sobre minha mesa, a dias que não faço nada a não ser suspirar por Rita, desejar seu rosto. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Rita entra na recepção, caminha em minha direção, abana um leque na frente do rosto, parece estar com muito calor, de fato os dias tem sido de fato quentes. Começo a suar em bicas à medida que Rita caminha em minha direção. O telefone toca na minha mesa, me volto para atender.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Alô.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">É engano, me volto para ver Rita. Ela não está mais onde estava, não caminha mais em minha direção. Não caminha mais em direção alguma, desapareceu, escafedeu-se. Tomou doril. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Meu chefe está esbravejando alguma coisa. Está furioso. Diz que tenho me tornado relapso, que talvez eu esteja estressado. Sugere-me ir para casa, descansar alguns dias. Digo que não é necessário. Mas ele diz que está decidido e pronto.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Pego meu terno, jogo sobre os ombros. Saio para a rua. Está chovendo. Vejo Rita entrando em um táxi. O táxi arranca. Joga água nas pessoas na calçada. Alguns gritam palavrões em direção ao táxi. Um rapaz mostra o dedo anular. <i>Filho da puta. </i> Grita vibrando o dedo no ar. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> Entro no meu carro. Ligo o rádio e saio para a chuva. O rádio toca a introdução de uma música que eu conheço bem.</span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;"><i> A Rita levou meu sorriso<br />no sorriso dela meu assunto<br />Levou junto com ela o que me é de direito<br />Arrancou-me do peito e tem mais</i></span></span></p> <p align="justify"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A Rita, de Chico Buarque. <i>Merda de FM.</i> Desligo o radio e fico ouvindo o som da chuva batendo na lataria do carro. Acendo um cigarro. A fumaça anestesia minhas sensações. Na rua o trânsito está infernal às quatro horas da tarde, o caos da metrópole é um anestésico pra alma, e a minha está carente de alívios. Fico vendo as pessoas passarem, imagino onde deve estar a Rita a uma horas, onde estará seu rosto em meio a tudo isso. Perguntas. A chuva cai. A lataria retumba. O caos se instala ao redor do carro. O frenesi do engarrafamento entope minhas artérias de uma nostalgia que beira a misantropia. Buzinas, a lentidão, pessoas a pé ultrapassam meu carro. Uma dessas pessoas pode muito bem ser Rita, não posso dizer que sim e que não, não consigo ver rostos, nem pernas, o caos da chuva aumenta cada vez mais. Penso em Rita.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Penso nas palavras de meu chefe, que estresse que nada. Estou muito bem. Não tenho nada do que ele imagina, no mínimo acha que estou enrolando no trabalho, os papeis se amontoam sobre minha mesa, petições, requerimentos, alvarás, documentação inútil, pessoas querem coisas, solicitam, exigem, testam a paciência do funcionário publico, um saco. E ainda meu chefe vem com aquela conversa mole de estresses. <i> Fique uma semana em casa, descanse. </i>Descansar vai ser bom. Procurar Rita, tentar enxergar seu rosto no meio da multidão, descobrir suas pernas, seus seios, seu busto, seus pés, refletir sobre os sonetos, quem sabe escrever mais alguns. Um livro quem sabe. Drummond não era funcionário publico? Então, pois bem. Por que cargas d`água eu não poderia também publicar um livro? Mas não agora, agora preciso descansar, diz meu patrão, estressado, foi isso que ele disse. Que bobagem, chefes não sabem de nada. Ninguém naquela repartição sabe de nada, bando de ignorantes, isso sim. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Dez minutos no trânsito, consigo andar uns trezentos metros e sou forçado a parar novamente. A chuva aumenta. A lataria do meu carro parece reproduzir uma sinfonia de metais. Acendo outro cigarro. Ando fumando muito. Através da chuva enxergo um outdoor enorme. Propaganda de meia calça. Reconheço de imediato aquelas pernas. São as pernas de Rita, não há dúvidas. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O que as pernas de Rita estão fazendo naquele outdoor? A chuva vai ficando cada vez mais forte e a cortina de água se fecha, não é mais possível ver coisa alguma à frente do nariz, não existem mas pedestres nas calçadas, os bueiros começam a vazar, vomitar de ressaca, o limpador do meu pára-brisa trabalha feito um louco, o trânsito vai andando aos poucos. Uma hora e meia depois eu estou em casa.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Sete horas da noite. Desço para a rua. Ainda chove. Uma chuva fraca, nem sombra do caos da tarde. As ruas estão tranqüilas. As luzes opacas vazam de janelas abertas, calor, apesar da água que se precipita. Eu suo. Ninguém se atreve a sair a rua. As novelas do canal 13 anestesiam as pessoas, manipulam, trancam-nas dentro de cubículos gentilmente batizados de lares. Onde estará Rita? </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Caminho para o bar. Na esquina já enxergo as luzes acesas. Vejo uma mulher saindo apressada. Capa de chuva com toca cobrindo o rosto. Conheço aquele andar. É Rita. Ela dobra a esquina. Corro em sua direção, mas ela já sumiu no fim da rua. Volto para o bar.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Quem sabe para onde aquela mulher foi?- Pergunto para o primeiro que encontro no bar.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Que mulher?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- A mulher que acabou de sair daqui.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Estou aqui a horas e não vi mulher alguma. Você deve estar enganado.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Tenho certeza de que vi Rita saindo daqui.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não conheço Rita nenhuma.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Você está mentido.- Grito na cara do sujeito.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ele se levanta enfurecido.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Está me chamando de mentiroso, seu maluco.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Mentiroso. Por que está me escondendo o rosto de Rita?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O homem enfurecido me dá um soco no nariz, caio no chão meio tonto, ele me dá alguns chutes nas costelas, sinto uma dor imensa, o homem continua a me chutar, me xinga de maluco e muitos outros palavrões que não consigo entender. De repente a dor pára. Não sinto nada além de uma modorra apática, tudo a meu redor roda. Sinto o gosto de sangue. Tudo fica escuro. Desmaio.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Quando acordo a chuva está mais forte, não há ninguém por perto, o bar está fechado, a rua está deserta. Alguém me chacoalha pelos ombros.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ei, moço, acorde!</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Conheço essa voz. É a voz de Rita. Não consigo vê-la, meus olhos estão inchados pelos socos do homem, tudo é uma nuvem azul opaca de luz e nada mais.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Não sou Rita. A moça diz.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Claro que é você Rita. Conheço sua voz.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Você está enganado, moço.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Nunca me enganaria com essa voz.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Está delirando, deve ser a febre, vou te levar para um hospital.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não precisa Rita.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Já disse que não sou Rita. Você está ardendo em febre.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Rita me levanta e me leva para seu carro. Não sabia que Rita tinha carro. Não sei muita coisa sobre ela, mas haverá oportunidades para aprender, descobrir, compartilhar e construir. Sento-me no banco do carona e sinto a cabeça pesada. As luzes dos postes piscam no escuro dos meus olhos embaçados. Desmaio mais uma vez. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Acordo em um leito de hospital. Os olhos já estão desinchados. Uma enfermeira está ao meu lado mexendo na mangueira do soro.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Onde está Rita?- Pergunto a ela. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não há Rita nenhuma por aqui. Descanse, ainda está com muita febre.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ouço os aparelhos hospitalares, sons monótonos e apáticos, uma ilusão de que a morte está sendo adiada ainda que por apenas alguns minutos. A enfermeira vai e vem, anda para lá e para cá dentro do quarto. Por momentos imagino que seja Rita, e que o rosto fino e os lábios cobertos de um batom esquálido da enfermeira sejam os de Rita, mas as pernas não são as mesmas, os seios não sobem e descem, em seu respirar compassado, frenéticos como os de Rita, que são austeros nos mais sutis dos movimentos. Não, Rita não está aqui, deve estar lá fora. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Olho pela janela, o sol está alto, não chove mais. Sinto-me melhor, apesar de meio tonto. Digo isso a enfermeira, ela diz que deve ser por causa do soro e pelo fato de eu ter ficado deitado durante muito tempo. Uma dor nas costas, ela diz que minhas costelas não foram fraturadas apesar das pancadas. Fico ainda no hospital, durmo e acordo em um ciclo confuso de sonhos picotados, feito uma tela psicodélica, fragmentos de Rita em todos eles, busto, seios, pernas, pés, coxas, joanetes, mas nunca o rosto. O barulhinho persistente do ponteiro dos segundos parece aumentar a apatia no quarto, aumentar a ausência de Rita e de seu rosto.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Quando saio do hospital ainda sinto as costelas doendo, o nariz está quebrado e dói muito, a respiração está difícil, está frio na rua. Caminho devagar vejo as pessoas e nenhuma delas é Rita. Vou até o outdoor de alguns dias atrás, na esperança de rever suas pernas, mas já trocaram a foto, há agora propaganda de cuecas. O melhor é ir para casa e descansar um pouco.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Em casa; nostalgia, vontade de fazer um soneto, pego uma folha de papel e procuro a inspiração, que parece ter fugido junto com o rosto de Rita.</span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;"> Rita, tenho amargado uma estranha<br />Saudade da presença de teu rosto<br />E essa saudade é enorme, tamanha,<br />Que já sinto a morte. Um desgosto</span></span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;">Em cada gesto, em cada gole, cada trago,<br />Morre em mim a vontade de ser<br />E já me esqueço, me abandono, me largo<br />A mercê de um pálido entardecer</span></span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;">Onde o sol se põe já sem vontade<br />De retornar no brilho e dar a aurora,<br />A luz suficiente para iluminar-te</span></span></p> <p><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Times New Roman;">A face. Tenho, Rita, ainda agora,<br />Uma incerteza, vindo te toda parte<br />A aumentar a já enorme saudade…</span></span></p> <p align="justify"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Sim, sinto saudade do rosto de Rita, sem nunca o ter visto. A saudade me atormenta nessa noite, mas do que em qualquer outro. Sinto-me ainda mais nostálgico. As costelas doem. Releio os sonetos, falam sobre todas as partes dela, desde os dedos do pé, até os fios dos cabelos. Ausência de seu rosto. Ausência de sua pessoa. Ausência de Rita.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A chuva volta a cair sobre a cidade. Pela janela vejo as luzes a iluminarem o vazio construído por tantas almas misturadas a soma de suas próprias incerteza. Sou mais um, e minhas incertezas se somam as demais. Visto a capa de chuva. Saio para a rua. Frio, a chuva ainda não está forte. Acendo um cigarro. Tragar dói às costas. Ando devagar. Entro no primeiro bar.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Uma vodca, por favor.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Bebo devagar. O bar está quase vazio. Poucos homens, barbudos, suados, falam palavrões, tem os olhos pequenos pela embriagues, aqui dentro tenho a impressão de que o tempo passa ainda mais devagar, isso aumenta ainda mais a ausência de Rita. Mais uma vodca, outra, três, quatro cinco. A cabeça gira. A chuva aumenta. Um dilúvio, uma tempestade. Saio para a intempérie. Meus passos agora estão vacilantes por causa da vodca.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Vejo na esquina uma moça, pernas longas, pernas de Rita, maquilagem carregada, batom vermelho sangue de boi, cabelo cortado à chanel. É Rita. Caminho até ela.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Olá Rita.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Oi meu bem, como está?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Estou a sua procura.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Que bom que me achou, querido.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Vamos para casa amor?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Claro.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ela me dá a mão e subimos a rua. No apartamento tenho dificuldades para abrir a porta, Rita me ajuda. Sirvo uísque para ela, bebemos, fazemos um brinde a nosso reencontro. Estou muito feliz. Ela sorri, finalmente vejo seu rosto, e é muito bonito apesar de tanta maquilagem. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Você é linda Rita. - Digo a ela.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Obrigado, meu bem, você é muito gentil.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Beijo a boca de Rita. Sua boca tem gosto de uísque com cigarro, ou será a minha? Beijo os seios de Rita e o resto de seu corpo. Faço amor com Rita. Durante a noite não consigo tirar os olhos do rosto de Rita, quero descobrir cada detalhe, para nunca mais sofre com sua ausência. Durmo abraçado a Rita. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Acordo com o sol entrando pela janela e batendo em cheio nos meu rosto, as costas ainda doem, o nariz lateja, o corpo todo está dolorido. Onde estará Rita. O quarto está todo bagunçado. Parece que passou um tornado por aqui, penso, ainda confuso e com sono. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Com o passar dos minutos percebo a ausência de muitos dos meus pertences, relógio, carteira, cartões de credito. A mulher não era Rita, era uma ladra qualquer. Uma prostituta, que bêbado, achei ser Rita. Mas Rita não me roubaria. A cabeça dói. Fico andando pela casa, e noto muitas ausências, até mesmo uma tela que havia na sala ladra levou. Meio dia. Desço para a rua. Como um restaurante. Comida a quilo. Estou sem fome. A cabeça ainda gira. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Volto para casa caio na cama. Apago.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Tenho um novo sonho com Rita. O cenário é um daqueles filmes de bang-bang. A porta do sallon balança para lá e para cá, ao sabor do vento, que sopra vindo do leste, poeira, rua de terra batida. Mulheres me acenam do alto de uma estalagem. Caminho para dentro do Sallon. Muitas mesas, homens de botas, esporas, revolveres nas cinturas, chapéus de vaqueiro, ao piano um homem de colete preto toca uma bachiana qualquer. No meu peito uma estrela de xerife, caminho pisando duro sobre minhas botas de couro cru, passo as mãos no bigode, tusso alto para mostrar a todos minha presença austera e provavelmente temida, minha postura de xerife de velho oeste. Nos fundos do sallon, a direita do piano há um pequeno palco, onde dançam seis dançarinas com vestidos compridos. Uma delas me chama a atenção por estar com o rosto coberto por uma máscara. Dirijo-me ao cara por detrás do balcão, o único sem chapéu.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Por quê aquela dançarina está usando máscara? Pergunto. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Por quê ela é Rita, a mulher sem rosto.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Acordo. Suado e com a cabeça ainda latejando. Durmo de novo. O sonho continua.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Aos poucos o sallon está cheio de cawboys, alguns mal encarados. Começa uma briga em um dos cantos perto do palco, tiros, cadeiradas, garrafadas, uma balburdia infernal. No meio da confusão um sujeito com pinta de vilão de faroeste salta sobre o palco e agarra Rita. Joga ela sobre os ombros e salta a janela mais próxima. Saio correndo em meio ao tiroteio, balas zunem aos meus ouvidos, salto a janela atrás do sujeito.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ele me espera já com armas em punho. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Vamos duelar pela donzela sem rosto. - Diz o sujeito.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Escolha suas armas. - Digo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Damos as costas um ao outro contamos até dez e nos viramos já atirando. A bela do sujeito passa rente ao minha orelha. Ele cai. Acertei bem no peito dele. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Rita está encolhida atrás de um barril velho. Caminho até ela. Ela se levanta.</span> </p> <p align="justify"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Obrigado xerife. - Ela diz. - O senhor merece um beijo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ela vai tirar a máscara para me dar um beijo. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Trimmmmmmmmmm… o telefone toca. Engano mais uma vez. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Mais tarde. Muito mais tarde, não sei quanto tempo fico nesse acorda e dorme, dorme e acorda. Já é noite mais uma vez. A vida é isso. Dias e noites. Ninguém da repartição me ligou para saber noticias. Ninguém quer saber de ninguém, estou sozinho no mundo. Estamos todos sozinhos. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Reúno os sonetos. Digito todos. Com cuidado para que nenhum erro passe despercebido. O windows não concorda com algumas de minhas expressões, coloca seu tracinho verde sobre as frases. <i>Computador idiota, não entende nada de poesia.</i> Vou escrevendo os sonetos para Rita. Espero que ela goste. Espero que ela goste de poesia. Espero que goste de mim. Espero que me mostre seu rosto, para que finalmente eu possa fazer um soneto para seu rosto. Onde poderei encontrar Rita? Se sempre me engano, nunca sei quem é ela, confundo pernas, bustos, me confundo. Talvez Rita venha a meu encontro. Talvez Rita esteja na internet. Em alguma sala de bate papo, talvez tenha Orkut, tão em moda, todo mundo tem, talvez em seu profile tenha uma foto de rosto então eu a contemplarei por inteira ao menos uma vez. Entro na internet. Orkut, digito Rita. Aparecem centenas de rostos, mas sinto que nenhum deles é a Rita que procuro. Minha Rita. Rita a mulher sem rosto. Somente pernas. Bustos. Seios que sobem e descem enquanto ela respira. Não, Rita não está no orkut, não está no Beltrano, não está no Gazzag, nem em outro site de relacionamento. Não está na internet. Não está em canto algum. Está apenas dentro da minha cabeça. Sem rosto. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Coloco os sonetos dentro de uma pasta de couro. Saio para a rua. Nessa noite eu encontrarei Rita. Não passa dessa noite. Mas por onde começar. Onde a vi pela primeira vez? No baile de máscaras. Depois na biblioteca. Mas como sei que era ela na biblioteca se não vi seu rosto em nenhuma das duas ocasiões. Extinto. Aquela época ainda estava lúcido o suficiente para não confundi-la, agora que estou perturbado a confundindo com qualquer uma. Sim, vou a biblioteca.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Paro o carro enfrente ao prédio da biblioteca. Tudo fechado. Apenas um guarda quase que na esquina. Desço do carro e vou até ele. Pergunto sobre os funcionários da biblioteca. Se ele conhece algum deles. Diz que sim. Fala-me o endereço. Decoro e volto para o carro. A noite parece que vai ser longa. Volta a chover. Raios. Trovões. Chuva e mais chuva. Os postes com suas lâmpadas amarelas vão clareando meu caminho através das ruas da cidade, iluminado os episódios de minha caçada por uma mulher sem rosto. Tenho a certeza de que nessa noite ainda encontrarei Rita. Certeza de que ainda essa noite contemplarei seu rosto. E enfim poderei fazer o último soneto e então descansar em paz. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Vontade de fumar. Acabou o cigarro. Paro assim que vejo um bar aberto.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Um maço de cigarros.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Só tenho Rithz. Pode ser?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Rita?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Eu disse Rithz e não Rita.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ah sim , pode ser.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A chuva aumenta. Chove torrencialmente. A casa da bibliotecária fica em um outro bairro, afastado daqui. O trânsito quase não existe. Poucos carros. Faróis acesos. Vermelhos. Amarelos. Sinais fechados para carros que não existem. Vermelho. Espero abrir. Deserto. Chuva. Luzes opacas. Ossos úmidos. Pigarreio. Ligo o rádio. Tusso. Chiados de uma FM qualquer. Dirijo devagar. A chuva lava as ruas com violência. A truculência da chuva assusta os pedestres. Muito tarde. Tusso, abro o vidro. Acendo um Rithz. Nunca fumei desse cigarro. O cigarro é longo, uma dose maior de morte prematura. Tomo câncer de pulmão em goles longos. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Rita está em alguma parte dessa cidade enorme. Em uma casa qualquer em qualquer uma das milhares de centenas de ruas dessa selva de concreto. Preciso encontra-la, ainda esta noite. Talvez ela já esteja dormindo. Sonhando sonhos coloridos e brandos. Eu a encontrarei, nem que leve a madrugada toda. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Alguns bares lotados. Boates. Danceterias. Talvez Rita esteja em alguma delas. A bibliotecária deve saber. O motor ronca como se estivesse com sono por debaixo da lataria sovada pela chuva. As ruas vão ficando estreitas à medida que avanço nas artérias e à medida que me afasto de seu coração gelado de concreto e ferro. Água. Muita água. Os postes têm a luz cada vez mais pálida. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A rua é essa. A casa é aquela. Paro o carro no meio fio, a enxurrada promete arrastar o carro rua a baixo. Desço na chuva. A casa não tem portão, nem campainha, subo alguns lances de uma pequena escada, as luzes estão todas apagadas, as paredes tem a tinta gasta, há um cachorro encolhido num canto da pequena varanda, ele não se mexe, parece não se importar nenhum pouco com minha presença, bato na porta. Ninguém atende de imediato. Acendo um cigarro. Espero alguns segundos. Nenhum movimento dentro da casa. Bato mais uma vez. Nada. Outra vez. Nada. Uma terceira vez. As luzes se acendem. Ouço uma voz feminina. Mas não entendo o que diz. Ouço passos, que ficam mais pesados à medida que se aproximam da porta. Uma moça abre a porta. É a bibliotecária.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Preciso falar com você. É urgente.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ela não se assusta. Reconhece-me da biblioteca, estou sempre por lá, sou um leitor mediano, leio alguma coisa de vez enquanto, mas na biblioteca eu apenas folheio, fico horas a folhear. Ela deve me achar meio esquisito por isso. Todo mundo acha. Eu também acharia se não fosse comigo. Ela me convida para entrar. Diz que estou molhado. Estava na chuva e não podia ser diferente, imagino. Os olhos dela denotam um misto de curiosidade e receio. O que temerá? Será que acha que sou algum maluco? Bem , talvez. Conto a ela a história de Rita. A curiosidade aumenta e vence completamente o receio no fundo de seus olhos. Ela faz um chá. Quente. Fumegante. A chuva bate na janela. Ela presta atenção na história. Eu conto devagar, tenho medo de esquecer algum detalhe. Falo a ela sobre os sonetos. Ela gosta de sonetos. Fala-me de Rimbaud. Digo que não sei quem é. Ela cita um verso. Eu não falo francês. Acho que ela também não. Fico sem entender mesmo assim. Retorno para a história de Rita. Digo que preciso de ajuda para encontra-a, preciso de sua ajuda. Ela toma o chá fica me olhando. Volta a pensar que eu sou maluco. Lembra-se vagamente ta tal moça, mas não sabe se ela se chama Rita. Diz que o nome da tal moça e o endereço devem constar da lista de freqüentadores da biblioteca. Pede para que eu passe na segunda-feira. Digo que tem que ser essa noite ainda. Ela fica me olhando pasma. Digo que é um caso de vida ou de morte. Ela, depois de muito relutar, resolve me ajudar. Tem as chaves da biblioteca. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ela se veste. Pega um de meus cigarros acende e dá uma tragada profunda.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Vamos encontrar essa tal Rita.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">A chuva está ainda mais forte. A madrugada vai se afunilando. Rumamos para a biblioteca. O mesmo deserto nas ruas. Os mesmos sinais fechados para os mesmos carros que não existem além do conforto de suas garagens quentinhas de subúrbio.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Falo ela, que descubro se chamar Ana, sobre os últimos acontecimentos, as alucinações com Rita, os delírios, devaneios, ela me olha meio atônita e curiosa, acho que imagina as situações à medida que eu as narro e chega às vezes até mesmo a esboçar um sorriso, que a medida que mergulhamos mais densamente no coração da metrópole, vai se tornado uma gargalhada, que extravasa mais do que eu posso imaginar a principio. Ana me conta do claustro da literatura. das tentativas frustradas de publicar, dos livros começados, das, das madrugadas acordadas, feito Balzac a compor sua obra obscura nos porões de uma Paris inóspita, fria e despreparada para a gloria de sua literatura. ela fala muitas coisas, mistura outras, uma enorme sopa de informação que se mistura com Rita e com meu desejo de ver-lhe o rosto. Caos e chuva. Diz que a Paris de Balzac era uma metrópole no coração do mundo, tal como essa cidade de ferro, concreto e fumaça, e que a literatura não achava brechas para se espalhar pela cidade e lhe curar o câncer da insensibilidade. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O guarda ainda está no mesmo lugar em sua guarita, escondido de Deus e de sua fúria.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O senhor voltou? - Ele constata ao me ver descer do carro com a bibliotecária. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ana abre a porta enorme enquanto o guarda fica olhando, com certeza imaginado coisas, enxergando possíveis conspirações no fato de um homem e uma mulher entrarem juntos em um prédio de madrugada. Ela consegue se mover nos escuro, enquanto eu apenas tateio as paredes a procura de apoio. Ana acende as luzes. Caminha em direção as fichas de cadastros. Procura e não acha nada que a anime. Continua a procurar.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Aqui está Rita, D`brael. Tem o endereço. Solteira, 27 anos. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">De volta para o carro. Ana resolve que quer ir comigo. Mergulhamos mais uma vez na chuva. A medida que vamos nos aproximando de nosso destino minhas mãos vão ficando suadas, minha garganta está seca, a voz quase não sai, pareço um viciado em meio a uma crise de abstinência. Dirijo o mais rápido que posso. Ana diz para irmos devagar, mas sua voz entra por um ouvido e sai pelo outro. Nada mais tem espaço em minha cabeça além do desejo incontrolável de ver Rita. Ver seu rosto, finalmente. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">No endereço há uma casa enorme e antiga, terrena, tijolos a vista, canteiros ao redor, touceiras de flores, rosas, margaridas, cravos, e muitas outras espécies que desconheço o nome e o aroma, que no entanto entram por minhas narinas sedentas do perfume de Rita. Ainda chove, mas agora a violência das águas vai diminuindo gradativamente a medida que caminho até a porta da casa. Bato. Silêncio. Bato de novo. A porta se abre e deixa escapar o volume da TV ligada. Um senhor de óculos redondos e olhar cansado, pele mirrada e dona de um tom anêmico me olha com olhos que já foram belos mais agora nada mais são que dois borrões azuis por detrás da grossa lente dos óculos arcaicos que sustenta sobre o nariz. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O que está acontecendo? - Ele parece assustado.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Preciso falar com Rita. - Eu digo.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O que disse, fale mais alto, estou sem meu aparelho de surdez.- O velho então aponta para a TV ligada. - Estava aqui vendo as imagens coloridas da TV, imagens muito bonitas. Imagens de um filme de guerra. Eu estive na guerra, perdi amigos, perdi primos, muitos morreram na guerra. Você não sabe, nem poderia saber, não tem idade pare ter estado na guerra. Eu já não enxergo nada. Fico aqui olhando as imagens, não preciso escutar o que dizem. Eu sei o que se passa, o que sentem, o que dizem, eu sou um deles, estive nessa maldita guerra. Ainda ouço os sons, os gritos, os tiros, os mísseis, as balas zunindo na madrugada, a fome, o frio, as dores, meu Deus que horror.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Onde está a Rita? - Interrompo seu monólogo. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Rita? A sim, ela está no trabalho.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Trabalho, mas é madrugada.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ela trabalha de madrugada. Uma boate, um bar, não sei direito. Nautic`s Club, já ouviu falar?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não, mas descubro onde é.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não esteve na guerra, não é mesmo?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Devia dar graças a Deus por isso, meu filho. Aquilo foi um inferno.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ele fica me olhando. De que guerra fala. Não imagino que tenha idade para de fato ter estado na guerra. Ele fecha a porta e imagino que volte para seu filme, volte para a guerra. Ana está fumando encostada no carro, quase não chove mais, uma garoa apenas, faz um pouco de frio.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Ela está trabalhando. Nautic`s Club, já ouviu falar?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não. Não conheço esse lado da cidade.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Ela me estende o maço de Rithz, acendo um e fumo devagar, penso nos episódios da noite. Consulto o relógio, já é madrugada alta. Entramos no carro a procura do tal clube. Algumas quadras adiante uma loja de conveniência dessas 24 horas. Entro, compro duas cervejas longneck e pergunto pelo clube. O rapaz me informa. É uma espécie de boate literária. Bebe-se, fuma-se e se lê poesia. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Volto para o carro, entrego a cerveja a Ana. Ela toma em goles longos. Nunca imaginei uma bibliotecária bebendo dessa maneira. Ela se senta no banco do carona, ainda fumando, liga o rádio. A FM toca um jazz nostálgico.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- O que vai dizer a ela quando a encontrar?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não sei.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Como não sabe? Tem que dizer alguma coisa. Ou vai simplesmente dizer a ela que escreveu um livro de sonetos, com um soneto para cada parte do seu corpo? Não acha que vai a assustar?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não sei. Preciso pensar. Preciso dizer alguma coisa a ela, não é mesmo?</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Sim, precisa dizer.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Não sei se vou conseguir.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">O saxofone vaza da FM. A melodia apática atravessa meus tímpanos. O que direi a Rita? Tenho a impressão de que não conseguirei dizer uma única palavra. Sensação de que ficarei mudo perante a contemplação de seu rosto. Seja qual for o rosto que ela tiver.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Na porta do Nautic`s Club há um letreiro de néon com as letras enormes em um desenho gótico, simples porém atraente. Um guarda na porta. Mãos atrás das costas, estático, estacionado entre uma postura de ataque e de defesa. Ana fica no carro. Pago a entrada entro. O lugar não é muito grande, fumaça por todos os cantos, a algumas mesas onde pessoas jogam, jogos de tabuleiro, batalha naval, banco imobiliário, xadrez, damas. Tomam cerveja preta, vodca, uísque, guaraná. Fuma cigarros aromáticos, incensos crepitam nos cantos e nos centros de algumas mesas. Estranho cenário para uma boate. O lugar está congestionado, as pessoas se esbarram, no entanto a ordem é impecável, os movimentos não se misturam e nem se coagulam, a limpeza do lugar é impecável, apesar dos odores múltiplos o ar é gostoso de ser respirado na mesma proporção com que temos imenso prazer ao respirar dentro de uma confeitaria. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Em um dos cantos da sala há um pequeno palco, onde um homem pequeno, de boina e bigode de pintor expressionista lê um poema em uma voz pausada. Não consigo encontrar Rita. Qual dessas moças que andam para lá e para cá será ela? Todos prestam atenção nos versos que o homenzinho lê. Até mesmo aqueles que parecem estar concentrados nos jogos prestam uma atenção a sua vozinha impertinente. O homem acaba de ler e é aplaudido. De repente tenho uma idéia para encontrar Rita. Subo no palco. Todos ficam me olhando. Acho que não tenho o aspecto dos freqüentadores da casa e ainda por cima estou meio molhado.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Gostaria de ler alguns sonetos que fiz para uma pessoa que amo muito. E que acreditem nunca vi o rosto. Mas fui informado por um velhinho, quase surdo, que jura ainda ouvir os sons da guerra, que ela trabalha aqui.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">As pessoas param o que estão fazendo e colocam seus olhos sobre mim. Leio o primeiro soneto. O segundo. Um soneto para cada pedaço do corpo de Rita. Soneto após soneto a mulher toda vai se desenhando. O silêncio é completo, todos estão atentos aos versos, tentando adivinhar qual o rosto de Rita. Tantos olhos sobre mim, não sei dizer quais são os olhos de Rita. Ate que uma moça, usando mini saia jeans, sai de entre um grupo mais a um canto, e então reconheço aquelas pernas. São as pernas de Rita. Nesse momento todos os olhos da assistência, e os meus também, já estão em Rita. Meus olhos sobem lentamente de suas pernas, tão conhecidas minhas, para sua cintura, seus seios, seu busto e finalmente seu rosto.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Desço do palco, caminho até ela e lhe entrego os sonetos. Ela não diz nada apenas estende as mãos para recebe-los. Também não digo nada. Sinto no peito uma alegria indescritível e uma necessidade enorme de compor um último soneto. Um soneto que descreva em cada verso o mais delgado dos traços de seu rosto. Caminho para fora da boate, os cheiros se misturam, a fumaça se torna uma cortina que me esconde os demais rostos e só consigo ver o de Rita, fossilizado para sempre em minhas retinas. Passo pelo guarda. Ana está mais uma vez apoiada no capô do carro, fumando. </span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- E então? - Ana quer saber.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">- Preciso ir pra casa fazer um soneto.</span></p> <p align="justify"> <span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;">Lágrimas escorrem dos meus olhos. Começa a chover e o céu então chora junto comigo.</span></p> <p align="justify"><span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> Odair J. Alves</span></p> <p><span style="font-family:Times New Roman;font-size:100%;"> Junqueirópolis, janeiro de 2008. </span></p> </div> </div>Unknownnoreply@blogger.com